quarta-feira, dezembro 20, 2006

O TOTALITARISMO SOVIÉTICO FOI VITIMA DE SEU PRÓPRIO VENENO

O determinismo, o mecanicismo e o reducionismo, contidos na filosofia marxista, são responsáveis pelo propalado declínio do marxismo e, sem dúvida, frutos do contexto metodológico, então vigente, rigidamente captado por Marx, para fundamentar a elaboração do seu sistema.

Prevalecia, então, uma metodologia científica fundamentada na matemática e na geometria analítica de Descartes e, na física clássica, sobretudo, na mecânica celeste, de Newton, que percebia o mundo, da mesma forma que Galileu, como um sistema compacto, cerrado, determinista, semelhante a um mecanismo de relógio.

O método cartesiano-newtoniano, de caráter matemático, mecânico, hermético, determinista, racionalista, dedutivo e analítico, reforçado pela ênfase matemática, imposta pelo positivismo, cujo ranço, reducionista, fragmentário, ainda contamina estudos atuais, apesar da necessidade de revisão, de reajustes, impostos pela física moderna e pela estatística, mormente em razão do advento da teoria da relatividade (Einstein) , da teoria dos quanta (Max Plank e outros), do Princípio da Incerteza (Heisenberg) e demais conquistas da ciência e da tecnnologia.

Embora seja credor do enorme avanço científico e tecnológico, o método científico ainda resiste a reajustes, exigidos não só para se adequar aos postulados da física moderna e da estatística, mas também, para, em contraposição à visão analítica cartesiana, ao mecanismo newtoniano e à matematização positivista, compatibilizar com as características orgânicas e sistêmicas, oriundas da Ecologia moderna, sobretudo, as atribuídas pelo modelo dos organismos vivos, que são sistemas auto-organizadores, auto-reprodutores e, auto-reajustáves, porque dotados de mecanismos de "feedback" negativo, e por isto, homeostáticos ou cibernéticos.

Foram as características contidas na metodologia científica da época, adotadas pelo sistema filosófico marxista, que geraram o modelo soviético de gestão, descrito pelo jornalista Marcelo Galli, na Revista Filosofia, Ciência & Vida:

“O primeiro país a adotar o sistema socialista foi a Rússia que, após a Revolução Bolchevista de 1917, se tornou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), mais conhecida como União Soviética. Dessa maneira, vários outros países adotaram o sistema político e econômico sob a influência da União Soviética, principalmente no Leste Europeu e Ásia, dentro do contexto posterior ao fim da grande guerra e a composição de um mundo bipolar dividido entre os Estados Unidos e URSS cada um na sua respectiva área de influência. Diferenças dos países adotados nos paises socialistas podem ser constatadas. Mas, o fator preponderante que fez com que o socialismo não prosperasse decorreu de um centralismo político administrativo pois afetou profundamente a produtividade de cada um, principalmente do seu principal ator (URSS). A meta principal deles era criar uma sociedade sem classes e sem desigualdades, mas na prática se “instituiu um Estado totalitário, dirigido por uma burocracia privilegiada que suprimiu a liberdade e impôs um controle rígido sobre todos os setores da sociedade, diz Nakazone. E mais: com a economia planificada e bancada unicamente pelo Estado, este começou a conviver com altos custos de produção, desperdício e baixa qualidade dos produtos porque não havia a liberdade de mercado. Nesse ponto se desenhou um círculo vicioso porque a ausência de concorrência frente às empresas estatais fez com que houvesse pouca preocupação por parte da classe dirigente de investir em tecnologia e no aumento da produtividade. O maior prejudicado pela situação foi o povo.”

O trecho supra, da descrição elaborada pelo jornalista Marcelo Galli, demonstra que os Estados totalitários possuem regimes sem mecanismos de “feedback” social que os possibilitaria se reajustar, constantemente, em função do seu próprio desempenho, dos objetivos da sociedade e, consoante a vontade popular.

O mecanismo de “feedback” negativo é um atributo peculiar da cibernética e, também, característico dos regimes abertos, democráticos, onde também se encontram distorções, mas podem ser corrigidas mediante a aplicação deste mesmo dispositivo.

Os sistemas herméticos, como as ditaduras e os modelos econômicos, controlados apenas por processos legais, em desacordo com as leis de mercado, são destituídos de “feedback”.

Essa ausência de mecanismo de “feedback”, acrescida da ação deletéria da entropia universal e, a não adoção do caráter dinâmico e transformador da ciências moderna, são mortais para os sistemas fechados.

No modelo soviético, construído consoante a visão marxista, foi ideologizada toda a ciência e, até mesmo o método científico, a fim de compatibiliza-los, à risca, com a dialética marxista.

Construiu-se, assim, um modelo sócio-político-econômico anticibernético, caracterizado pela ausência de mecanismos de “feedback”, por isto mesmo, inapto para se reajustar às circunstâncias internas e ambientais, sendo passível de ser comparado com um caso de soldadura da tampa de uma panela de pressão, o que a torna incapaz de se adequar ao excesso de pressão interna, advinda da temperatura exterior, cuja tendência é explodir, como de fato explodiu o colosso do leste europeu.

Não por acaso, a cibernética foi considerada ciência “profana” na URSS.

Assim, o totalitarismo soviético foi vitimado pelo seu próprio veneno.

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