domingo, dezembro 17, 2006

AMBIENTE ECONÔNICO E SOCIAL EM QUE FOI ENGENDRADO O MARXISMO

Numa visão ecológica do surgimento do marxismo, Marcelo Galli descreve, na revista Filosofia, Ciência e Vida, o ambiente econômico e social do continente europeu, no século XIX.

Mas antes de abordarmos esta parte do seu trabalho, convém fazer referência aos antecedentes desta situação, cujas raízes se encontram, principalmente, no século XVIII.

As grandes transformações ocorridas na segunda metade desse século, por analogia com a revolução francesa, foram designadas como revolução industrial e tem como símbolo a máquina a vapor, inventada por James Watt, em 1769, criador, também do primeiro dispositivo mecânico de “feedback” o regulador de Watt.

Segue-se a invenção de inúmeros engenhos mecânicos, entre os quais, a construção do tear dessa natureza, em 1785.

A indústria do carvão, mediante a utilização das máquinas a vapor, atinge cerca de 90% da produção mundial, somente na Inglaterra.

“Outro setor que conhece um desenvolvimento de monta é a indústria de base. A siderurgia e a metalurgia do ferro - essenciais nessa era da maquinaria - desenvolvem-se desde o início do século XVIII, incorporando novas soluções técnicas, como a fundição à base do coque, extraído do carvão mineral, associando intimamente esta indústria ao setor carbonífero. A ferrovia, - que teve a primeira linha regular, entre Liverpool e Manchester, instalada em 1830 – é como a síntese dessas duas indústrias: não apenas transporta carvão e ferro (além de outras mercadorias e passageiros), como também suas locomotivas, movidas a máquina a vapor, alimentam-se de carvão e são construídas de ferro” (Historia da Filosofia - Abril Cultural - 1999).

Este ambiente econômico é a origem das condições sociais, referidas por Marcelo Gali, as quais, acrescidas do contexto histórico, científico, filosófico e ideológico, então vigente, serviram de base para a elaboração da crítica da economia política e, da ideologia de Marx e Engels.

Eis a descrição do jornalista:

‘‘A Europa no século XIX passava por mudanças num ritmo frenético comandadas, por trem a vapor, comunicações através de telefone e telegramas, e maquinários substituindo uma porção de mão-de-obra no chão de fábrica das indústrias. Pessoas do interior daquele continente começam um grande êxodo rural rumo aos grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida e oportunidades de emprego. O capitalismo inicia seu apogeu após o início da revolução industrial anos antes, e começam a surgir os grandes conglomerados que atuam em diversos segmentos da economia, cujos produtos são fabricados em série. Ao mesmo tempo em que o avanço material e o desenvolvimento industrial traziam benefícios à população, além da acumulação de capital, efeitos colaterais surgiam na mesma proporção. Pobreza, péssimas condições no ambiente de trabalho, exploração, jornadas intermináveis e sem descanso de labuta em troca de um salário mísero, além do crescente aumento do poder dos donos dos meios de produção, ou seja, os empregadores, em relação aos seus subordinados. É diante do contexto histórico acima descrito que surgem duas das ideologias mais influentes do século XX, o marxismo e o socialismo. E, sem as quais, é difícil visualizar o século passado.”

A situação social, mencionada por Galli, conseqüente do ambiente econômico, então reinante, adicionadas do contexto científico, filosófico e ideológico da primeira metade do século XX, inclusive a vigência de inúmeras utopias e do socialismo utópico, engendraram o marxismo.
A filosofia marxista corresponde à contraposição ao liberalismo econômico, baseado no regime de livre concorrência e, no aforismo “laissez faire, laissez passer”, que preconiza a regulação econômica através de mecanismos de “feedback”. expressos pela idéia de uma “mão invisível”, criada por Adam Smith, capaz de regular o mercado mediante o equilíbrio entre a oferta e a procura.

Marx resolvera construir um instrumento teórico que, em nosso entender, poderia, também, ser classificado como uma tentativa de elaboração de um mecanismo de “feedback social”, capaz de nortear a transformação do mundo, cuja hora, diz ter chegado, já que filosofia, até então, buscara, apenas, a interpretação desse mundo.

Nesta perspectiva, o marxismo deveria constituir uma ciência da ação.

Na próxima edição deste blog, continuaremos a tratar do artigo de Marcelo Galli, no que tange ao surgimento da filosofia marxista.

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