sábado, novembro 29, 2008

Governo pressiona banqueiros por redução dos juros

SHEILA D'AMORIM
da Folha de S.Paulo, em Brasília
KENNEDY ALENCAR
DENYSE GODOY
da Folha de S.Paulo

Falando a cerca de 200 banqueiros na noite de anteontem em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro que é intenção do governo liderar uma cruzada pela redução dos "spreads" bancários, mas não deu pistas das medidas que podem ser adotadas.

Durante o tradicional jantar de final de ano promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Mantega afirmou que o custo financeiro elevado está dificultando a retomada do nível de atividade e que "a prioridade do governo é reduzir esse custo para nível compatível com o crescimento sustentável da economia". "Se cada um fizer a sua parte, podemos ter crescimento de 4% em 2009. É um objetivo ambicioso, mas exequível", destacou, referindo-se à importância da recuperação do mercado de crédito para o crescimento econômico.

Para essa estratégia do governo Luiz Inácio Lula da Silva, reduzir o "spread" bancário (a diferença entre o custo de captação do dinheiro e o juro cobrado dos clientes) tem importância fundamental.

Na platéia, banqueiros de todos os tipos: os que estão à venda e os que estão indo às compras em tempos de crise, gente que só precisa de um pouco de dinheiro para esperar a tempestade passar e aqueles que possuem recursos de sobra em caixa mas ficam com receio de emprestar, executivos que já anunciaram queda dos juros por imposição do governo e outros que resistem à idéia neste momento.

Diplomacia

Mas, como o jantar era de confraternização, a diplomacia se sobrepôs às divergências. As estocadas foram sutis e ocorreram antes de os executivos e as autoridades se dedicarem às garfadas no filé ao molho de cogumelos. A partir daí, eles eram só sorrisos mútuos.

Anfitrião da festa, Fábio Barbosa, presidente da Febraban, fez questão de frisar que os números divulgados nesta semana pelo Banco Central mostram que "o sistema [bancário] não deixou de operar". Criticado nos bastidores do governo por declarar que, em razão da crise mundial, o crédito irá se acomodar num patamar de crescimento menor e que há um "congestionamento no mercado", já que, com a falta de linhas externas, as empresas estão procurando empréstimos em reais, ele deu seu recado.

Seu discurso teve tom de um sutil desagravo e bem que poderia ter sido precedido da frase: "Como eu disse e não quiseram acreditar".

Também presente ao evento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não encampou abertamente a campanha do governo por redução dos "spreads" -apenas disse, em tom de crítica, que é necessário evitar a alternância de momentos de "excessos" e "retração" no crédito.

Apesar de, nas reuniões da equipe econômica com o presidente Lula, ser favorável à tese, na frente dos banqueiros ele optou por discutir a situação econômica internacional.

Mais provisão

Meirelles defendeu um aumento na provisão dos bancos em momentos de bonança do crédito para poder fazer frente aos momentos de dificuldades --provisão é a parcela de recursos que as instituições financeiras são obrigadas a deixar reservada para cobrir eventuais calotes nas operações de crédito. Citou especificamente o modelo espanhol, que prevê provisão adicional à necessária para garantir a solidez do sistema financeiro toda vez que o crédito fica acima de um patamar determinado pelo governo. Com isso, forma-se uma reserva que pode ser usada em períodos de vacas magras.

Apesar de destacar que os bancos brasileiros operam com um bom nível de provisões e que isso se mostrou acertado com a crise deste ano, ele defendeu a aplicação de um mecanismo pro-cíclico nessa área, mas disse que isso precisaria ser acertado entre os países.

quinta-feira, novembro 27, 2008

De onde governos tiram recursos para salvar bancos?

Pedro do Coutto (Tribuna da Imprensa)

O título deste artigo, creio, reflete uma pergunta fascinante pelo enigma que ela traduz. Impressionante como existe tanto dinheiro (no mundo) para salvar bancos em crise e como falta este mesmo dinheiro para setores vitais, como a saúde, educação, segurança, habitação, transporte. O problema, inclusive, não é só brasileiro. Com a crise do subprime, que deixou um rombo enorme de dimensão universal, o problema generalizou-se de forma impressionante.

Na primeira página da edição do dia 25, a "Folha de S. Paulo" chama para a matéria do correspondente em Nova York, Sergio Dávila. Ele revela que, além dos 20 bilhões liberados agora de emergência para o Citigroup, o Tesouro dos Estados Unidos prepara-se para assumir 306 bilhões de dólares para ancorar ativos submersos do mesmo grupo econômico, que continua sendo o mais poderoso de todos. Entretanto, a operação de socorro não termina neste ponto, acrescenta o jornalista. Não.

Ele publica um quadro que reúne o mesmo Citibank, mais o Morgan Chase, o Bank of America, a seguradora AIG, o Goldman Sachs, a Merryl Lynch, além de outro Morgan, este o Morgan Stanley. Montante já destinado a todos estes, como num passe de mágica: 300 bilhões de dólares. Praticamente o montante que vai ser injetado adicionalmente no Citigroup. De onde sai tanto dinheiro? Afinal de contas, o poder público não produz receita diretamente, mas, isso sim, é um instrumento de riqueza através do processo de desenvolvimento.

Qual a explicação? No mundo, calcula Dávila, o desequilíbrio causado pelo subprime, na realidade uma superbomba financeira, oscila em torno de 5 trilhões de dólares. Cinco trilhões de dólares representam um terço do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos. Ou dez por cento do Produto Mundial, que se situa na faixa de 45 trilhões a 50 trilhões de dólares. Uma explosão fantástica que atingiu o sistema financeiro e a economia mundial. Vai, sem dúvida, gerar efeitos em cadeia.

O governo Lula, diretamente através do Ministério da Fazenda, ou indiretamente por intermédio do Banco Central, tem partido ao encontro de uma série de instituições em crise. Além de ter injetado dezenas de bilhões de dólares no mercado para segurar a cotação da moeda estrangeira dentro do País, agora há pouco tornaram-se mais elásticos os prazos de recolhimento de impostos federais.

Realizou financiamentos a bancos ameaçados, adquiriu o Nossa Caixa de São Paulo, editou medida provisória, que está para ser votada talvez esta semana (escrevo este texto terça-feira) autorizando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a assumirem participações em bancos ou estabelecimentos em crise.

Enfim, como se verifica, uma bem ampla distribuição de recursos. São para conter riscos, afirmar-se. Tudo bem. Mas de onde vem tanta disponibilidade? Lendo-se o balanço financeiro da Secretaria do Tesouro Nacional, assinado por Hugo Arno Augustin, publicado no Diário Oficial de 30 de outubro (o próximo balanço mensal será a 30 deste mês), difícil entender. Mas o ministro Guido Mantega certamente terá condições de explicar. Afinal, dinheiro não nasce na relva dos parques paulistas no amanhecer. O orçamento federal situa-se na escala de 1 trilhão e 500 bilhões de reais.

Deste total, 1 trilhão e 298 bilhões são títulos em poder dos bancos que lastreiam a dívida interna. Existe apenas margem financeira aparente de 25 por cento. Os recursos destinados à Saúde são de apenas 48,4 bilhões. Está publicado naquela edição do DO. A rubrica Educação é atendida somente com 27,4 bilhões. Os pagamentos previstos em matéria de juros vão a 152,2 bilhões. Mas esta estimativa do diretor da STN foi feita antes da última elevação dos juros, de 13 para 13,75 por cento ao ano.

Com isso, em vez de 152,2 bilhões, o desembolso sobe para pouco mais de 160 bilhões de reais. Como existe disponibilidade para operações de socorro? Serão elas escriturais? Ou, como se diz agora depois da internet, virtuais? Dificilmente serão materiais. Alguma explicação lógica o fenômeno a que estou me referindo há de ter. Pois, fora da lógica, de fato, não existe nada na vida.

Nem se diga que os recursos salvadores estão nos 250 bilhões das cadernetas de poupança ou nos 200 bilhões de reais nas contas do FGTS. Nada disso. Estes dois valores, sem dúvida, já se encontram embutidos nos títulos que sustentam o giro da dívida interna do País de 1 trilhão e 298 bilhões. Basta considerar a diferença das taxas. As cadernetas rendem aproximadamente 0,6 por cento ao mês. As contas do FGTS estão na escala - podemos conferir pelos extratos que recebemos - de 0,45 por cento. Também ao mês. Os papéis federais são remunerados à base de 13,75 por cento ao ano.

Portanto, a uma velocidade de 1,1 por cento ao mês. Enfim, um mistério. Não somente brasileiro mas também americano, especialmente colocado na véspera de Barack Obama assumir a Casa Branca. Eu não sabia que existia tanto dinheiro disponível no mundo para salvar estabelecimentos de crédito. E tão pouco para assegurar a existência digna de bilhões de seres humanos. Há na comparação que faço um enigma a ser desvendado. Como fazê-lo?

segunda-feira, novembro 17, 2008

Como corrigir o New Deal hoje (Argemiro Ferreira - Tribuna da Imprensa)

Uma caricatura de Barack Obama - com a piteira, os óculos e o sorriso de Roosevelt - pode ter inspirado a pergunta "Franklin Delano Obama?", título de uma coluna de Paul Krugman sobre um novo New Deal. Desenhada por Richard Thompson, era uma das "visões de Obama" depois da vitória, apresentadas pela revista "The New Yorker", que no calor da campanha o tinha retratado na capa como muçulmano ao lado da "guerrilheira" Michelle.

Quanto a Krugman, Nobel de economia além de colunista do "New York Times", tinha mais uma pergunta: "Até que ponto a era Franklin Delano Roosevelt (FDR) é mesmo capaz de servir de orientação no mundo atual?" Ele acha isso possível, desde que Obama aprenda tanto pelos fracassos como pelos sucessos Pois o New Deal, diz, não foi tão bem sucedido a curto prazo como o foi a longo prazo.

"A razão para os êxitos limitados a curto prazo, que quase anularam o programa como um todo, foi o fato de terem sido suas políticas econômicas excessivamente cautelosas", escreveu o colunista. E sobre as conquistas a longo prazo? "As instituições que FDR criou mostraram-se tanto duráveis como essenciais. E elas permaneceram como alicerce de nossa estabilidade econômica".
Deturpação deliberada à direita

Krugman pediu ao leitor para imaginar como seria pior a atual crise financeira se o New Deal não tivesse garantido a maioria dos depósitos bancários. E ainda para imaginar como os americanos mais idosos se sentiriam agora se os republicanos tivessem conseguido, quando tentaram, desmantelar o Social Security (seguridade social)", uma herança de FDR.

Os progressistas esperam hoje, assinalou, que o governo Obama, como o New Deal, responda à atual crise econômica e financeira criando instituições, em especial um sistema universal de assistência à saúde que altere o contorno da sociedade americana para as futuras gerações. Mas o governo não deve copiar um aspecto menos exitoso do New Deal: sua resposta inadequada à própria Grande Depressão.

Existe hoje, para Krugman, toda uma indústria intelectual, operando em especial a partir de "think tanks" (institutos de reflexão política) de extrema direita dedicados a propagar a idéia de que FDR na verdade tornou a Depressão pior. É importante, acha ele, saber que a maioria do que se ouve nessa linha baseia-se em deturpação deliberada dos fatos: o New Deal socorreu, sim, a maioria dos americanos.
O erro maior a ser evitado

Nos dois mandatos iniciais, diz Krugman, FDR não buscou construir a plena recuperação econômica - falha frequentemente citada como prova contra a economia keynesiana, para a qual mais gastos públicos fazem mover uma economia estagnada. Mas o estudo definitivo da política fiscal do período, do economista (M.I.T.) e Cary Brown, concluiu outra coisa: o estímulo fiscal deixou de ser bem sucedido não por não ter funcionado, mas por não ter sido tentado.

E os milhões de americanos que trabalharam graças ao WPA, CCC e outras siglas do New Deal? Construção de estradas, escolas e outras obras públicas não equivalem a grande estímulo fiscal? Não tão grande como possa parecer, responde Krugman. O efeito dos gastos foram neutralizados por outros fatores, como o efeito do aumento de impostos herdado do governo Herbert Hoover.

Além de relutante em ampliar a expansão fiscal, FDR estava ansioso para voltar aos princípios orçamentários conservadores - o que quase desfez seu legado. Após a vitória esmagadora de 1936, o governo cortou gastos e aumentou impostos, precipitando uma recaída econômica que levou a taxa de desemprego de volta aos dois dígitos, causando sua grande derrota na eleição parlamentar de 1938.

O que salvou a economia e o New Deal, para Krugman, foi o enorme projeto de obras públicas conhecido como II Guerra Mundial, que finalmente forneceu um estímulo fiscal adequado às necessidades econômicas. Essa história, assim, traz lições importantes para o governo Obama, a ser iniciado a 20 de janeiro.
Esperança sim. E audácia também

A primeira lição é de que passos errados na economia podem subverter rapidamente um mandato eleitoral. Os democratas acabam de ter uma grande vitória, mas em 1936 ela tinha sido ainda maior - e seus ganhos evaporaram depois da recessão de 1937-38. Os americanos não esperam resultados econômicos instantâneos do próximo governo, mas esperam resultados. A euforia dos democratas terá vida curta se eles não produzirem uma recuperação econômica.

A lição econômica é a importância de fazer o suficiente. FDR acreditou estar sendo prudente ao controlar seus planos de gastos; na verdade, estava pondo em risco a economia e seu próprio legado. "Eis o meu conselho à gente de Obama" - escreveu Krugman. "Calculem bem a ajuda que considerem necessária à economia. E depois, acrescentem 50%."

O colunista e economista prêmio Nobel está convencido de que é muito melhor, numa economia deprimida, errar para mais estímulos do que para menos. E a chance de Obama liderar um novo New Deal, segundo Krugman, dependerá em grande parte de serem suficientemente vigorosos os planos econômicos a curto prazo. "Os progressistas esperam apenas que ele tenha a audácia necessária", concluiu.
Leia o blog do colunista

sábado, novembro 15, 2008

EUA apóiam nova regulação mundial em cúpula do G20


FERNANDO CANZIAN
Enviado especial da da Folha de S.Paulo a Washington

O governo dos Estados Unidos vai apoiar, na cúpula do G20, a criação de um grupo para supervisionar as atividades das maiores instituições financeiras do mundo e para eventualmente rediscutir e ampliar seus níveis de regulamentação.

Ao lado da promessa conjunta dos países-membros, de reforçar medidas de estímulo fiscal em cada economia individualmente, esse deve ser o principal ponto acordado pelos chefes de Estado na reunião do G20, em Washington.

10 questões para entender o tremor na economia
Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA
Veja os países e instituições financeiras afetados diretamente pela crise

Comunicado a ser emitido na tarde de hoje não trará nada bombástico ou definitivo. Deve apresentar apenas as concordâncias gerais. Os detalhes do que for acertado devem ser discutidos depois, por ao menos cinco diferentes grupos de trabalho a serem criados.

Os grupos devem discutir assuntos como uma possível nova regulamentação para o mercado financeiro internacional; a coordenação de medidas fiscais conjuntas; mecanismos para garantir linhas de crédito para o comércio exterior dos países em desenvolvimento; e a institucionalização de reuniões periódicas do G20 para monitorar a crise.
Molly Riley/Reuters
Cúpula do G20 nos EUA abrirá caminho para novo sistema financeiro mundial
Cúpula do G20 nos EUA abrirá caminho para novo sistema financeiro mundial

Uma das ambições do encontro é também ressuscitar, até o final do ano, a chamada Rodada Doha, de liberalização do comércio mundial. O tema empacou com as resistências de UE e EUA em reduzirem subsídios no setor agrícola e, no caso dos emergentes, em abrir mais seus mercados à importação e à atuação estrangeira nas áreas financeira e de serviços.

Ontem à noite, o presidente dos EUA, George W. Bush, recebeu em "jantar de trabalho" na Casa Branca os líderes do G20, além dos chefes de instituições multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

O jantar, que parou o centro de Washington e levou mais de 300 limusines para a região da Casa Branca, foi o pontapé inicial do encontro do G20, que deve acabar por volta das 15h30 de hoje (18h30 em Brasília).

Durante o brinde no jantar, o presidente norte-americano afirmou que "o problema [no sistema financeiro internacional] não foi criado da noite para o dia e não será resolvido da noite para o dia. Mas, com cooperação constante e determinação, ele será resolvido".

Uma das idéias é que os grupos de trabalho já apresentem propostas mais fechadas em cada área logo no início de 2009. É possível que os líderes concordem hoje em realizar um novo encontro para discutir essas recomendações no Reino Unido, que assumirá a presidência rotativa do G20 no ano que vem, no lugar do Brasil.

Em entrevista ontem, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que medidas como as perseguidas pelo G20 não são tomadas "da noite para o dia". "Mas também não podemos sair daqui com as mãos abanando, pois há uma grande expectativa de que haja decisões. Se não tomarmos medidas rápidas, o risco não é de recessão, mas de depressão."

O ponto mais espinhoso entre as discussões deve ser o da nova regulamentação para o setor financeiro internacional, e qual a posição dos EUA em relação ao assunto.

Nesse sentido, a Casa Branca fez questão ontem de antecipar para a imprensa o teor do discurso (semanal) que Bush fará hoje pela manhã no rádio.

"Ao discutirmos a atual crise, precisamos fazer reformas abrangentes para adaptar nosso sistema financeiro ao século 21. Durante a cúpula, trabalharei com outros líderes para estabelecer os princípios dessas reformas. Elas devem tornar os mercados mais transparentes e regular mais efetivamente seus produtos financeiros", diria Bush no pronunciamento.
Pablo Martinez Monsivais/AP
Porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse EUA apóiam regulação, com ressalvas
Porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse EUA apóiam regulação, com ressalvas

Em entrevista ontem, a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, também adiantou que os EUA "apóiam a idéia" da criação de um "colegiado de supervisores" para rediscutir e eventualmente averiguar a aplicação de uma nova regulamentação dos mercados em níveis mais amplos.

Em comunicado, o FMI e o Fórum para a Estabilidade Financeira ressaltaram que os dois organismos devem "participar ativamente" na criação de uma eventual nova regulação.
Os EUA também vêm se mostrando muito propensos a criar um sistema de "câmara de compensação", como já existe em outros países (no Brasil, caso da BM&F), para limitar os riscos e padronizar operações em mercados de derivativos e outras operações consideradas hoje como "exóticas". A falta de controle desses mercados está na raiz da atual crise financeira.

Embora Bush vá deixar a Casa Branca em 20 de janeiro, os membros do G20 acreditam que seu sucessor, Barack Obama, tenderá a ser até menos avesso que o atual presidente a eventuais medidas que possam minimizar o risco de descontroles no mercado e que possam vir a gestar uma nova crise.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Entenda o que está em jogo na reunião do G20

FABRÍCIA PEIXOTO
enviada especial da BBC a Washington

Líderes de países ricos e emergentes, que formam o G20, reúnem-se em Washington neste sábado. O encontro foi marcado para discutir a crise financeira, mas acabou ganhando uma projeção ainda maior.

Alguns países, sobretudo europeus e emergentes, querem aproveitar o momento para sugerir mudanças mais profundas e de longo prazo no sistema financeiro mundial.

Já os Estados Unidos afirmam que não é necessário reinventar o sistema, mas apenas "consertá-lo".

O que é o G20

Também conhecido como "G20 financeiro", trata-se de um grupo de 20 países criado formalmente em 1999, logo após as crises asiática e russa. Seu objetivo era avaliar as razões da turbulência financeira do final dos anos 90, além de discutir ações de longo prazo que pudessem evitar novas crises.

Nos anos seguintes, porém, a economia mundial reconquistou a estabilidade e o G20 passou a incorporar outros temas globais a sua agenda, tais como mudança climática e as conseqüências do crescimento demográfico para a economia.

Qual a relação entre o G20 financeiro e o G20 que discute o comércio internacional?

Apesar de alguns países fazerem parte dos dois grupos (como o Brasil), não existe qualquer relação entre eles.

O G20 de países em desenvolvimento é uma união informal, instituída em 2003 durante negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e cujo objetivo é combater os subsídios agrícolas utilizados por países ricos.

Quem faz parte do G20?

Os principais países ricos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá, Itália, Rússia, além da União Européia) e os principais emergentes (China, Índia, Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, México, Argentina, Austrália, Indonésia e Coréia do Sul).

Nos encontros oficiais, os países são representados pelos ministros da Economia e pelos presidentes de bancos centrais. O último encontro foi realizado em São Paulo, entre os dias 7 e 9 de novembro.

O Brasil está na presidência do grupo, que funciona em regime rotativo. Em 2009, a presidência estará com o Reino Unido.

Com que objetivo a reunião de Washington foi marcada?

Diante do agravamento da crise financeira, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sugeriu que o G20 se reunisse para discutir possíveis mudanças no atual sistema financeiro. Por isso a reunião acontece em Washington.

A reunião deste sábado, dia 15, acontece em caráter excepcional, em função da crise financeira. Essa é a primeira vez que os países serão representados por chefes de Estado.

O que estará na pauta da reunião?

Não existe uma pauta conjunta, mas alguns temas já foram apresentados na última reunião, em São Paulo, e devem voltar à mesa. Entre eles estão a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), a criação de mecanismos que dêem maior transparência a aplicações de alto risco e a criação de um organismo internacional para supervisionar o sistema bancário.

O G20 tem poderes para instituir uma nova arquitetura financeira global?

Não. O que o grupo faz é discutir e sugerir práticas que consideram apropriadas para o manejo do sistema financeiro mundial.

Os países têm a soberania para decidir se adotam ou não tais procedimentos. Além disso, muitas vezes os países precisam submeter sugestões de mudanças ao seu Poder Legislativo, o que torna o processo mais complexo.

A política de sugestão de boas práticas é adotada também por outros organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a OMC.

Essas instituições não têm poder para decidir que conduta política ou econômica será adotada em cada país, tampouco o de penalizar aqueles que não as adotarem --mas ainda assim, a maioria segue as mesmas regras.

"Se os países vão adotar ou não certas práticas depende muito da legitimidade do sistema", diz o historiador americano John Steele Gordon.

Segundo ele, como as falhas do atual sistema estão à mostra, cria-se uma situação favorável a mudanças no sistema.
"A situação é propícia, mas isso não quer dizer que seja um processo fácil", diz.

Existe consenso entre os países sobre que medidas adotar?

Não. Esse é, inclusive, um dos principais desafios do G20 para essa reunião. Enquanto os europeus e os países emergentes, como o Brasil, vêm demonstrando interesse em uma reforma mais ampla do sistema, os Estados Unidos defendem mudanças mais sutis.

Em discurso na quinta-feira, o presidente George W. Bush disse que é preciso aprimorar as práticas do sistema financeiro, mas alertou para o perigo de uma "super-regulação".

O que está na agenda brasileira?

Uma das principais demandas do governo brasileiro é a ampliação do papel dos países emergentes no FMI. Além disso, o Brasil defende que os organismos financeiros internacionais adotem políticas de prevenção a crises.

Qual será o resultado prático dessa reunião?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não esperar grandes resultados do encontro, "que seria apenas o começo".

De fato, caso algumas medidas sejam sugeridas no sábado, elas deverão passar ainda por um longo processo de análise.

O presidente da França, Nicolas Sarzoky, já sugeriu um novo encontro, para daqui a cem dias.

O fato de o presidente Bush estar em fim de mandato também reduz as possibilidades de que medidas mais significativas sejam adotadas ou mesmo discutidas.

Por que essa reunião vem sendo chamada de "novo Bretton Woods"?

É uma comparação à reunião que aconteceu em julho de 1944, em Bretton Woods, New Hamphire (EUA), e que instituiu uma nova ordem econômica mundial.

Naquela época, havia um certo consenso de que a desordem financeira mundial, que culminou na Grande Depressão (1929), foi uma das principais causas da Segunda Guerra.

Para tratar de possíveis desequilíbrios econômicos e financeiros entre os países, algumas instituições foram criadas, entre elas o FMI e o Banco Mundial.

Na avaliação de Gordon, comparar os dois períodos "é definitivamente um exagero". Segundo o historiador, há interesses políticos, sobretudo da União Européia, em ganhar espaço nas relações internacionais.

"No final, aquilo que era da esfera econômica sempre acaba em política", diz.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Moscou espera se reaproximar da UE na cúpula de Nice

Por José Milhazes, da Agência Lusa

Moscou, 12 nov (Lusa) ? A Rússia espera que a cúpula de Nice, que será realizada em 14 de novembro, na França, relance as relações bilaterais com a União Européia, responsabilizando o bloco europeu pela sua pausa.

A reunião UE-Rússia de Khanta-Mansiisk, realizada em junho deste ano, deveria pôr fim à estagnação dos anos anteriores e abrir uma "nova fase" dos contatos, sobretudo em relação à assinatura do novo Acordo Estratégico, que norteia as relações entre Moscou e Bruxelas.

Porém, a "nova fase" foi curta e terminou quando as tropas russas, em agosto, entraram no território georgiano a pretexto da "defesa da segurança dos cidadãos da Rússia residentes na Ossétia do Sul", região separatista da Geórgia.

Na cúpula extraordinária da UE, realizada em 1º de setembro, o bloco praticamente congelou as relações com Moscou e, por isso, a reunião de Nice poderá servir para que ambos definam posições em relação à cooperação futura.

"A União Européia decidiu que já castigou suficientemente a Rússia pela "guerra do Cáucaso" e "pode pôr fim à pausa diplomática no processo de estabelecimento de novas relações de parceria com Moscou", publicou Andrei Fediachin, comentarista político da agência oficiosa RIA Novosti.

Fediachin também escreveu que o Kremlin continua apostando nas divisões internas da UE sobre os russos.

"Na última reunião de Bruxelas, a Lituânia (país que se opõe ao reatamento das conversações com Moscou sobre a assinatura do novo Acordo Estratégico) teve uma surpresa desagradável. Contava com o apoio da Polônia, da Grã-Bretanha e dos "vikings", mas nada recebeu além da traição... A União precisa de avançar com as conversações porque alguns países da UE (não se enumeram abertamente, mas trata-se da Itália, Alemanha e França) já estavam prontos para assinar acordos bilaterais com a Rússia", acrescenta.

"Para a UE, a Rússia não é apenas uma fonte de gás. A Rússia é um enorme mercado de consumo da produção européia. E com mercados desses não se discute", frisou o analista.

Comércio Exterior

O comércio entre a Rússia e a União Européia cresceu, até o final de outubro, 37 bilhões de euros (R$ 103,2 bilhões) em comparação com o mesmo período de 2007, atingindo 170 bilhões de euros (R$ 474,3 bilhões) no acumulado do ano.

Moscou não esconde que a sua intenção é focar novos mercados. Se, nas diretrizes da política externa russas, aprovadas em 2000, as relações com a UE tinham uma "importância crucial", em 2008, o documento passou a considerar a UE como "um dos parceiros fundamentais econômicos, comerciais e da política externa".

"A crise demonstrou que, primeiro, a Rússia, a Europa e os Estados Unidos encontram-se no mesmo barco e, segundo, são as empresas russas que devem aos bancos ocidentais, e não o contrário", disse Arkadi Moshes, analista de relações internacionais.

"Além disso, continua a aumentar o saldo comercial negativo com a China numa situação em que a última não pretende pagar, ao contrário da Europa, preços de mercado pelos hidrocarbonetos russos", acrescentou.

Nesta situação, Nice poderá reavivar o diálogo, mas não é completamente claro o rumo que vai tomar.

"O início das conversações não significará um salto. O salto será dado no seu fim", concluiu Vladimir Tchijov, embaixador russo em Bruxelas.
UOL

domingo, novembro 09, 2008

O uso das novas regras de ortografia, sancionadas em setembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será obrigatório somente a partir de 2013.


Mas mesmo com quatro anos de prazo para adaptação, os candidatos devem começar a se preparar. Algumas organizadoras de concursos já admitem que vão cobrar o conhecimentos das novas regras em provas objetivas a partir do ano que vem.

De 2009 até 31 de dezembro de 2012, o país terá um período de transição, no qual valerão tanto a ortografia atual quanto as novas regras.



O acordo ortográfico unifica a escrita nos oito países que falam português: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. E, apesar de a incorporação das mudanças pelos livros escolares ser obrigatória a partir de 2010, editoras prevêem lançamento de livros com as novas regras já em 2009.



Organizadoras

O G1 consultou a Fundação Vunesp, a Fundação Cesgranrio, o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB) e a Consulplan sobre os procedimentos que serão adotados em relação às novas regras.



Consulplan

A Consulplan informou que irá adotar as mudanças nos enunciados e alternativas de respostas das questões a partir de janeiro do próximo ano. No entanto, o modo antigo e o novo de escrever serão aceitos oficialmente até dezembro de 2012.


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“Sabe-se que essas mudanças são progressivas e que, por se tratar de uma fase de adaptação, a Consulplan não exigirá na resolução das questões que os candidatos sigam as novas regras gramaticais”, informou a organizadora em nota. Em relação à correção da redação e provas discursivas, elas serão analisadas e corrigidas em conformidade com as normas e exigências do edital do concurso.

A organizadora recomenda que os candidatos tomem conhecimento sobre as novas regras gramaticais e que atentem para o que será exigido por meio dos editais.



Vunesp

A Fundação Vunesp informou que a implantação será gradual, a partir de 2009, chegando-se integralmente às novas normas ortográficas apenas em 2011 e 2012. Segundo Silvia Bruni Queiroz, técnica em avaliação educacional, até 2012, nenhum candidato será penalizado por utilizar uma ou outra das formas.

Silvia recomenda aos candidatos que a partir de 2009 comecem a fazer uso das novas normas ortográficas para que possam incorporá-las gradualmente.

Em relação às exigências serem pedidas no edital, a fundação informou que vai depender da negociação com os órgãos.



Cesgranrio

A Fundação Cesgranrio informou que ainda não foi estabelecida a data a partir da qual passará a exigir as novas regras ortográficas.

Entretanto, antes de a nova grafia ser adotada, tanto para as questões de múltipla escolha como para as questões discursivas e as redações, as informações serão amplamente divulgadas nos editais e no site da fundação na internet.



A gerente do Departamento Acadêmico, Maria Vitória Teixeira, recomenda que os candidatos comecem a se preparar desde já.



Cespe/UnB

O Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB) informou que a partir de janeiro de 2009 a nova ortografia pode ser cobrada nas questões objetivas. Portanto, segundo a organizadora, os candidatos devem estar preparados.


Nas provas discursivas, as duas formas de escrita serão igualmente aceitas até 2012. “As bancas de correção serão devidamente orientadas para aceitar ambas as formas de escrita durante o período de transição”, disse Marcus Vinicius Soares, coordenador de acadêmica do Cespe/UnB.


Em relação às exigências serem pedidas no edital, a questão deve ser definida até o fim do ano.



Mudanças no edital

Para Cláudia Beltrão, professora de português da Central de Concursos, caso as organizadoras decidam cobrar as novas regras, a exigência deverá estar explícita nos editais.



“Se as novas normas forem cobradas e isso não estiver previsto no edital, o candidato pode entrar com recurso contra as questões e até com mandado de segurança contra o concurso”, alerta.

Ela já está ensinando as novas regras aos candidatos em sala de aula porque trabalha com a possibilidade de muitas bancas pedirem as novas regras já no ano que vem. No entanto, ela ressalta que nas redações os candidatos poderão usar as duas formas de escrita até o fim de 2012.

As mudanças ocorrem apenas na acentuação gráfica e hífen. Segundo Cláudia, no primeiro caso os alunos devem entender o que é ditongo, hiato e palavras paroxítonas para poder assimilar as mudanças. Já no caso do hífen a “decoreba” será inevitável.

“Quem irá prestar concurso no ano que vem não deve se aprofundar nisso agora, mas apenas se informar sobre as mudanças e continuar se dedicando a concordância, regência e crase, que são bastante pedidos nas provas e não vão mudar.”



Só com segurança

Ela recomenda que as novas regras sejam usadas em redações ou provas dissertativas se o candidato estiver totalmente seguro. “Se não tiver certeza, não misture o atual com o novo”, diz.

Segundo ela, o candidato não deve usar o período de transição para fazer experiência – ele tem que aproveitar para ir se acostumando com as novas regras. “Se ficar em dúvida, vá pelo que já é conhecido”.


Renato Aquino, autor dos livros “Português para Concursos” e “Redação para Concursos”, pela editora Campus/Elsevier, diz que o bom senso pediria que nada fosse cobrado em 2009 dos candidatos.



Estudo desde já

Mas ele recomenda que o candidato estude acentuação gráfica como sempre estudou, já enfocando nas mudanças.



“Tem que partir pra nova ortografia, escrever na nova língua. Afinal, não foram tantas alterações assim”, diz. Mas ele ressalta que ainda não é hora de investir em livros sobre o assunto.


Para Diego Amorim, professor de português do OBCursos, as novas normas podem ser pedidas em provas de interpretação de texto. “As bancas podem perguntar, por exemplo, se a retirada do acento agudo pode interferir no sentido da frase”, diz.


Por isso, ele afirma, é necessário que o candidato saiba as duas normas. “Quanto mais ler sobre o assunto mais vai se familiarizando com as mudanças”. O professor incentiva que os candidatos já passem a fazer as redações com as novas normas a partir do ano que vem. “Isso mostra atualização e sofisticação lingüística”.


Ele diz ainda que a prova de atualidades também pode trazer perguntas sobre a reforma ortográfica: por que foi instituída, como foi o processo, entre outras.

sábado, novembro 08, 2008

Economistas pedem que cúpula do G20 encontre caminhos para a mudança


Abu Dhabi, 8 nov (EFE) - Analistas financeiros pediram hoje aos países do Grupo dos Vinte (G20) no Fórum Econômico Mundial (FEM), que começou na sexta-feira nos Emirados Árabes Unidos, para não baixarem a guarda e a encontrarem os caminhos para a mudança.

"Uma mensagem clara para o G20 após nossas discussões aqui é que os Governos não devem, de modo algum, baixar a guarda neste momento", afirmou o diretor da Escola de Ciências Políticas e Econômicas de Londres, Howard Davies, segundo um comunicado do FEM.

Davies insistiu na necessidade de que a reunião do G20, prevista para o dia 15 em Washington, "deve identificar as direções para a mudança".

A nota acrescenta que os analistas coincidiram em que a crise financeira oferece uma grande oportunidade ao mundo para "reestruturar o sistema financeiro internacional".

Além disso, ressaltaram que a eleição de Barack Obama como novo presidente dos Estados Unidos, assim como a próxima reunião do G20 oferece "novas oportunidades para a liderança na reformulação da estrutura financeira internacional".

A americana Suzanne Nora Johnson, participante no fórum, surgido com o objetivo de introduzir novas idéias para enfrentar os desafios aos quais o mundo enfrenta, assegurou que "os problemas produzem soluções".

"Isto nos dá uma grande oportunidade para encontrar soluções e novas maneiras de olhar o mundo", disse.

Entre sexta-feira e domingo, cerca de 700 analistas acadêmicos, empresariais, governamentais e de ONG distribuídos em 60 comissões estudam em Dubai os "principais problemas internacionais".

Está previsto que os resultados do encontro sejam apresentados na reunião anual do FEM de 2009 em Davos, na Suíça, para ser submetidos a discussões e debates.

sexta-feira, novembro 07, 2008

A CRISE É SISTÊMICA, A RESPOSTA DEVE, TAMBÉM, SER SISTÊMICA




"A crise é global e requer uma resposta global", diz Obama em sua primeira entrevista após ser eleito

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

"A crise é global e requer uma resposta global", afirmou nesta sexta-feira (7) o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua primeira entrevista coletiva após vencer o candidato republicano, John McCain, e tornar-se, aos 47 anos, o primeiro negro a governar o país. Ainda sobre a crise, o democrata afirmou que "enfrentamos o maior desafio econômico de nossas vidas. Teremos que atuar rapidamente para resolvê-lo".

* AFP Photo/Stan Honda

Barack Obama concede primeira entrevista coletiva após ser eleito presidente dos Estados Unidos


"Eu não subestimo a enormidade do problema que temos a frente. Algumas das escolhas que teremos que fazer serão difíceis. Não será rápido nem fácil nos tirar do buraco em que estamos. Mas a América é um país forte", afirmou.

Acompanhado pelo vice, Joe Biden, o democrata disse que há famílias lutando por seus empregos e pensando em como podem manter suas casas e pagar suas contas. "Vou lidar com essa crise para ajudar essas famílias trabalhadoras. Hoje, conversei com meus conselheiros, que trabalharão com minha equipe de transição, para dar uma resposta a essa crise", afirmou.

"Temos uma crise financeira que está se espalhando por toda a economia e com certeza precisaremos de mais ações, e minha equipe de transição estará acompanhando. E precisaremos da aprovação de um programa de estímulo, focando na questão de empregos. Porque isso tem um impacto na capacidade de as pessoas comprarem serviços e produtos", afirmou.

O presidente eleito disse que espera que esse novo programa de incentivos seja aprovado rapidamente e, se não for imediato, fará com que seja aprovado quando tomar posse. "Tenho certeza de que um novo presidente pode ser um grande impacto e por isso concorri à presidência."

Sobre reunião com o presidente George W. Bush, Obama afirmou que "o povo americano precisa de ajuda". "O povo americano vai mal. É um bom momento de deixar a política de lado, e é isso que vou levar à conversa com o presidente."

Obama afirmou também que conversou com outros presidentes, como Bill Clinton, George Bush, sobre a crise. O presidente eleito também disse, ao ser questionado sobre um possível aumento de impostos, que seu programa prevê cortes para a classe média e o aumento de postos de trabalho, mas que continuará monitorando a economia nos próximos meses.

Obama mencionou o crescimento do desemprego nos Estados Unidos e também dados ruins da indústria automobilística como a razão pela qual seu governo terá de agir rapidamente contra a crise econômica. "Estamos diante do maior desafio econômico de nossa vida e teremos de agir rapidamente para resolver isso", disse.

Dados divulgados nesta sexta mostraram que a economia norte-americana perdeu 240 mil empregos em outubro, levando o total de perda de vagas acumulado no ano a 1,2 milhão. A taxa de desemprego cresceu de 6,1% para 6,5%, a mais alta desde março de 1994.

Sobre a escolha de seu próximo cão, Obama brincou: "É uma questão muito importante". Um dos critérios para a escolha, segundo ele, seria por um cachorro que não cause alergia.

Antes da entrevista coletiva, Obama e seu vice, Joe Biden, se reuniram com um grupo de 17 conselheiros econômicos. Entre eles, estavam os ex-secretários do Tesouro Lawrence Summers e Robert Rubin, o ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker, o bilionário Warren Buffett e outros líderes empresários e políticos.

quarta-feira, novembro 05, 2008



Obama é, mesmo, o "Bamba"!: Eleito 1º negro na presidência dos Estados Unidos


Democrata Barack Obama era favorito desde o estouro da crise financeira nos EUA, em meados de setembro

O democrata Barack Obama foi eleito no começo da madrugada desta quarta-feira o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o 44º da história do país. O republicano John McCain já telefonou a Obama parabenizando-o pela vitória e fez seu primeiro discurso após a derrota dizendo "aplaudir" o caráter histórico da vitória de Obama.

O atual presidente do país, o republicano George W. Bush, também já telefonou para Obama para dar os parabéns.

Nascido em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, Barack Hussein Obama é senador por Illinois em seu primeiro mandato. Ele passou a juventude na ilha americana, onde se destacou pelo serviço comunitário. Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional pela Universidade Harvard, onde conheceu sua mulher, Michelle, e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago, antes de ser eleito senador.
Obama era um rosto pouco conhecido no cenário nacional até vencer as acirradas primárias democratas contra Hillary Clinton --tida como grande favorita na disputa presidencial. A experiência da disputa com a ex-primeira-dama fortaleceu sua estratégia de campanha e a mostrou que a promessa de mudança em tempos de insatisfação política funcionava.

Com o slogan "Mudança na qual podemos acreditar", Obama entrou como preferido na disputa presidencial contra o veterano republicano John McCain.

O resultado confirma a vantagem consolidada nas pesquisas após o estouro da crise financeira norte americana que assola as Bolsas de todo o mundo.

O voto popular, porém, ainda precisa ser confirmado pelos colégios eleitorais, no processo de votação indireta americano. Como nos EUA a eleição presidencial é indireta, quem efetivamente define o novo presidente são os representantes dos colégios eleitorais. Cada Estado tem um número de representantes proporcional à sua população e o colégio tende a endossar o candidato escolhido pelo voto popular.

Economia

A vantagem, apontam analistas políticos, foi consolidada pelo estouro da crise financeira, em meados de setembro, com a quebra do tradicional banco Lehman Brothers. "Nenhum dos dois [presidenciáveis] realmente apresentou uma solução real para a crise em curto prazo, mas Obama foi quem mostrou melhor aos eleitores que era capaz de retomar o crescimento da economia americana", disse Donald Kettl, professor de ciência política da Universidade da Pensilvânia.

Para o professor, Obama criou uma imagem de otimismo e tranqüilidade que os americanos queriam ver em seu candidato. "Ele é um político muito bom, mostrou que é calmo e inspirou confiança com sua retórica afiada. Obama se tornou um movimento político", disse, em entrevista por telefone à Folha Online, da Filadélfia.

Obama se beneficiou ainda do erro do rival republicano que, meses antes da crise financeira abalar a economia mundial, admitiu que a economia não era seu ponto forte e foi duramente criticado.

Recordes

A vitória de Obama marca ainda o sucesso de sua estratégia de campanha baseada em objetivos grandiosos e financiada pela maior arrecadação de verbas da história da política americana.

"Obama buscou novas fontes e formas de financiamento. Ele aliou os tradicionais grandes doadores com as vantagens e inovações da internet", disse Marie Gottschalk, professora de ciência política da Universidade da Pensilvânia e especialista em campanhas políticas, em entrevista à Folha Online, por telefone. O segredo do sucesso do senador, aponta Gottschalk, foi criar um entusiasmo inédito entre os jovens que se mobilizaram não apenas para votar, mas para arrecadar doações e incentivar mais pessoas a participarem do processo político.

Na internet, Obama provou que estava disposto a dar voz a todos os cidadãos. A campanha democrata montou 700 centros de jovens pró-Obama e, no Facebook, site de relacionamentos, mantém dois milhões de "amigos" contra 500 mil de McCain. Os jovens também aumentaram as platéias de seus comícios, que chegaram a reunir 100 mil pessoas.

"Obama levou a demagogia a um outro nível. Embora seja apenas um palpite, já que ainda não temos os dados sobre o perfil dos eleitores, é muito provável que a vitória de Obama seja resultado do entusiasmo inédito que ele causou nos jovens", avalia Gottschalk, acrescentando que o democrata deve influenciar a estratégia das próximas campanhas presidenciais nos EUA.