sábado, dezembro 16, 2006

O MARXISMO E O SOCIALISMO COMO MECANISMOS DE “FEEDBACK” DO CAPITALISMO

Prosseguimos, hoje, em nossa análise sob o ponto de vista metodológico do artigo de Marcelo Galli, publicado na Revista Filosofia Ciência & Vida, em que afirma que “o marxismo e o socialismo mudaram a cara do século XX”, mas os cientistas ouvidos pelo jornalista são unâmes em afirmar que é preciso repensar a sua base filosófica.

Vejamos os seguintes trechos:

“Se, por um lado, o futuro do socialismo é incerto, o que é de sua responsabilidade como contribuição ao passado está inscrito nas páginas da história e ecoa ainda. A maior contribuição do marxismo e do socialismo no século XX foi a elaboração de instrumentos teóricos que permitiram compreender que determinada etapa histórica não é permanente e que o presente não é o destino final da sociedade humana.”

Esta parte do trabalho do jornalista refere à importância de uma base teórica ou filosófica para nortear a ação dos atores sociais, além de demonstrar que a sociedade continua em evolução, pois que, como a ciência e a filosofia, é um processo inacabado e inacabável.

Galli dá a palavra a Paulo Sergio Nakazone, sociólogo e Professor do Centro Universitário Nove de Julho (Uninove), o qual acredita que: “Na sociedade atual, ccm o neoliberalismo, a globalização e a repartição da riqueza produzida se tornando dramaticamente desequilibrada e amplificada as desigualdades sociais, as obras de Karl Marx se revelam de grande atualidade”,

Refere o jornalista que o Professor de História das Universidade de Michigan, Geoffy Eley, no seu livro Forjando a Democracia, aponta que “o socialismo ao lado do marxismo teve um papel nas lutas pela criação de condições básicas de exercício da democracia, como o próprio advento do sufrágio universal com a consolidação da presença das mulheres no processo eleitoral, após a segunda Guerra Mundial (1939-1945). E mais: face ao perigo de sucumbir ao regime socialista, os países capitalistas para a implementação e viabilização de um Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), ou seja, o fornecimento pelo estado ou governo de bens sociais para o bem-estar da população, tais como saúde, educação, moradia etc.”

Do exposto, se depreende que o marxismo e o socialismo têm servido como instrumento de “feedback” para que o capitalismo, por instinto de sobrevivência, adote como parte de sua estratégia de reajuste, o afrouxamento periódico da corda do pescoço dos oprimidos.

Por outro lado, numa perspectiva dialética, diríamos que o marxismo e o socialismo têm funcionado como a antítese do capitalismo, formando um par dialético, cujas sínteses periódicas são representadas por estágios do processo social, vigentes em cada instante considerado.

Esta utilização reformista dos mecanismos de "feeback", atributo fundamental da cibernética, justifica, em parte, a postura de certos metodologistas de esquerda, os quais ideologizam o método científico sistêmico, sob a alegação que ele é meramente conservador e impediente de um processo revolucionário.

Esquecem que, agregado da cibernética, a qual é considerada parte da Teoria Geral dos Sistemas e, da Teoria da Informação, englobada pela Cibernética, o Sistemismo, em sua versão intitulada Sistemismo Ecológico Cibernético, o qual abrange, além destas três ciências, a Ecologia e outros ramos do conhecimento científico, se torna revolucionário, pois a própria cibernética constitui uma verdadeira revolução, como expressa D`Azevedo:

"Toda revolução traz consigo transformações, mudanças, crise, sublevação, e também novas estruturas sociais e novos problemas resultantes em muitos casos. A cibernética, seu advento e desenvolvimento constituem em nova revolução, uma segunda revolução industrial que traz em seu âmago novos problemas filosóficos, sociais, econômicos de complexidade nunca antes enfrentados pelo homem."

(D’AZEVEDO, N. C. - Cibernética e Vida. Petrópolis - Editora Vozes. 1972, in PAIM, E. N. & Paim, R.C.N. - Sistemismo Ecológico Cibernético - Lambari - MG - CEL Informática & Editoração Ltda., 2004 - 342 p. - pg.97)

Pode se considerar que o Sistemismo, ao englobar a Cibernética, adquire desta, as características dialéticas, com base nas afirmações de GUILLAUMAUD que, ao ser referir à Cibernética como a ciência de todos os mecanismos de retroação (“feedback”) e considerá-la como a ciência da contradição, atesta os seus atributos dialéticos, quando, em seu livro, Cibernética e Materialismo Dialético, assim se expressa:

“ ... a contradição aparece como um caráter essencial dos servomecanismos construídos pelo homem ou já presentes na natureza, e a cibernética, ciência de todos os mecanismos auto-reguladores, quaisquer que sejam suas diferenças de escala, de nível, de natureza, aparece, assim, a mais de um título, como a ciência da contradição."

(GUILLAUMAUD, J. - Cibernética e Materialismo Dialético - Trad. do original francês “Cybernétique et matérialisme dialectique” por Juvenal Hahne Junior e Guilherme de Paula - Rio de Janeiro - Tempo Brasileiro - 1970. p.116. (in in PAIM, E. N. & Paim, R.C.N. - Sistemismo Ecológico Cibernético - Lambari - MG - CEL Informática & Editoração Ltda., 2004 - 342 p. 149-150).

No próximo blog, voltaremos a tratar, do ponto de vista metodológico, do trabalho de Marcelo Galli, pois numa perspectiva cibernética, um dos componentes do Sistemismo Ecológico Cibernético, proposto através deste blog, fica patente que, na opinião dos cientistas ouvidos por este jornalista, o marxismo, o socialismo e o esquerdismo, estão a carecer de uma nova base filosófica e, portanto, da adoção, de mecanismos cibernéticos de “feedback” para se reajustarem o processo filosófico e a correspondente práxis, a fim de adequá-los à realidade do nosso tempo.

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