O MÉTODO USADO POR MARX E ENGELS E A NECESSIDADE DE SUA RECICLAGEM
Como já nos referimos, Marx e Engels procederam um reajuste da dialética hegeliana, acrescendo-a do materialismo, o que pode ser considerado como a utilização de um mecanismo de retroação, retroalimentação ou “feedback”, para efetivar tal propósito.
A dialética, a ciência da contradição, é também a do movimento, do dinamismo, das transformações, das mutações e da evolução.
Fundamenta-se na universalidade das mudanças, antagonismos e conflitos, existentes na natureza, sobretudo entre os seres vivos e, entre estes e o ambiente, assim como em todos os setores da sociedade, consoante as idéias de Heráclito de Efeso, para quem tudo muda infinitamente - “Panta rei”, - tudo flui: a morte sucede à vida, o dia se segue à noite, a vigília ao sono. Não se banha duas vezes no mesmo rio, porque o rio, em outro instante, já não está igual e, nem o homem é o mesmo, pois a sua idade, as condições da sua fisiologia já alteraram, enfim a sua história já é outra e, até mesmo influenciado o seu devir.
Mario Chaves, em seu livro "Saúde e Sistemas, afirma:
“Na natureza, os fenômenos se desencadeiam entre dois extremos, ações opostas: o calor e o frio na entropia universal; as oxidações reduções nos fenômenos bioquímicos da vida celular; a excitação e a inibição na fisiologia neuromotora da célula nervosa; a composição e a decomposição no domínio da vida.”
O fluxo que faz da vida uma torrente, seria constantemente produzido e destruído por um fogo cósmico.
A este conjunto de antagonismos, assim como a antítese entre a vida e a morte, se pode acrescentar a oposição entre a negentropia (entropia negativa) e a entropia, a atração e a repulsão da matéria, capazes de atribuir características dialéticas à natureza.
Passemos, agora, à continuação do trabalho de Marcelo Galli, na Revista Filosofia, Ciência & Vida, como se segue:
“O método usado pelos dois para criar a ideologia foi a dialética que consiste na busca pela verdade através do diálogo e que se divide em três etapas: tese, antítese e síntese. Isso quer dizer que uma idéia é contraposta a outra para que uma terceira seja criada e assim por diante. A síntese alcançada através do diálogo se torna uma nova tese, que dialoga com uma outra idéia que vira uma antítese e, mais uma vez, é gerada uma nova síntese, criando desta maneira, uma seqüência de pensamento quase infinita. Acredita-se que a dialética tem sua origem na Grécia antiga. Mas, foi no pensamento dialético de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) que os alemães se apoiaram e, a partir do seu aperfeiçoamento, traçaram uma dialética materialista, em oposição ao idealismo de Hegel que acreditava que o pensamento criava a realidade, ou seja, a realidade era uma projeção do que pensamos. Além disso, um outro ponto observado por Marx e Engels da dialética de Hegel é o indício de que tudo que existe, por conta de suas contradições, tende a acabar. Assim, acreditavam Marx e Engels, o capitalismo morreria com o gosto do seu próprio veneno, cujo roteiro da derrocada e subida do poder dos trabalhadores foi escrito no Manifesto Comunista, de l848, Além de um trabalho de fôlego chamado o Capital, publicado em 1893, no qual Marx disseca o capitalismo e o seu funcionamento de forma trabalhada e científica. O doutor em filosofia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e professor da Universidade de Santa Catarina (UFSC) Orlando Tambosi, demonstra em seu livro O Declínio do Marxismo e a herança hegeliana (UFSC) a tese de que o fracasso do marxismo se deve à sua própria fundamentação filosófica porque tentou juntar dois princípios incompatíveis, o materialismo e a dialética. Tambosi explica que a dialética só funciona dentro do sistema idealista hegeliano porque a realidade não é contraditória. Conflitos e lutas do capitalismo (como a relação capital/trabalho assalariado) são concebidos por Marx como “contradições dialéticas”, o que fere um princípio fundamental das concepções materialistas (melhor dizendo, realistas), que ele pretendia defender: o princípio clássico-aristotélico de não contradição”, explica. Para Aristóteles (384-322 a.C) nos seus estudos de lógica, determinado argumento só pode ser “verdadeiro” ou “falso”, logo um argumento verdadeiro não é falso e um argumento falso não é verdadeiro. A análise de Tambosi se apóia no marxismo desenvolvido na Itália e se municia no arcabouço teórico do filósofo Lucio Colletti (1924-2001), que examinava a relação entre Marx e Engels.”
Nos trechos iniciais do artigo da Revista Filosofia, Ciência & Vida, afirma-se que as ideologias vivem uma encruzilhada ideológica e necessita ser renovado e, o historiador Alexandre Fortes diz que o socialismo passa por um momento de crise e reconstrução em novas bases, precisando de programa e estratégia concretas para o século XXI, enquanto o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia “identifica no livro intitulado Pensar a terceira geração da esquerda, esse sopro, mas que ainda carece de base teórica”, ao que se acresce a tese do Professor Orlando Tambosi, em seu livro Declínio do marxismo e herança hegeliana, segundo a qual o fracasso do marxismo se deve à sua própria fundamentação filosófica.
Deste resumo, pode-se concluir que o marxismo, o socialismo, o esquerdismo precisa se reciclar e se atualizar face às novas condições no nosso tempo, sob pena de se concretizar a constatação de Marx e Engels, a respeito da dialética de Hegel: “o indício de que tudo que existe, por conta de suas contradições, tende a acabar”.
Numa perspectiva cibernética, um dos componentes da metodologia proposta através deste blog, significa a necessidade de adoção de mecanismos de “feedback”, para o processamento de retroalimentação ou reajustes do marxismo, tanto no seu conteúdo, como na sua base filosófica e, na sua práxis.
A constatação da deficiência da base teórica do marxismo pode ser encontrada, já no próprio Engels.
Ele, ao atribuir à natureza características dialéticas, como consta de seu livro póstumo, Dialética da Natureza, pretendia, desde o início da década de 1870, escrever uma obra que constituiria a base filosófica para o marxismo e seria intitulada “Dialética da Natureza”, mas, após a morte de Marx, em 1883, envolvido com as atividades de direção do movimento operário e, com o objetivo de concluir a edição de “O Capital”, nunca concluiu seu intento.
A par de combater a influência no materialismo mecanicista e vulgar no movimento operário, Engels se propôs a sistematizar a aplicação da dialética à natureza, cuja concepção e método, havia utilizado na análise da sociedade, o que constitui o materialismo histórico.
Portanto, Engels já percebia lacunas na base teórica em que se apoiava o marxismo e, porisso mesmo, se propunha reciclá-la.
A grande verdade é que esta via, trilhada por Engels, ainda não teve seguidores, à altura do filósofo.
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