segunda-feira, outubro 27, 2008

Uma Visão Sistêmica das Eleições Municipais de 2008

Clique no Link seguinte:

http://www.justicaeleitoral.gov.br/divhtml.htm

segunda-feira, outubro 20, 2008

Lobistas estão com os dias contados (Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - A contratação de lobistas que vivem de intermediar contatos entre prefeituras e ministérios pode cair em desuso. O Portal dos Convênios, que registra todos os programas dos ministérios para levar obras e serviços aos municípios, faz concorrência direta e gratuita com o lobby tradicional.

Boa parte dos prefeitos, especialmente os de municípios menores, fica sabendo da existência de verbas federais por lobistas, que lhes servem de guia na Esplanada dos Ministérios. Há também lobby instalado em escritórios bem montados nos arredores da Praça dos Três Poderes, que atuam como despachantes de luxo, acompanhando projetos de interesse de prefeituras mais ricas.

Com o novo Sistema de Convênios (Siconv), no entanto, todas essas informações serão prestadas on line. No portal, o Ministério do Trabalho, por exemplo, vai tornar público que dispõe de verba para programas de qualificação profissional. Os prefeitos que se interessarem poderão se candidatar, apresentando os seus projetos também on line.

E bastará acionar o portal para saber todas as certidões negativas de débito e outros documentos exigidos para ter acesso ao dinheiro. Para complicar ainda mais a vida dos lobistas, o governo acredita que o número de convênios celebrados com ONGs e prefeituras deve diminuir. Afinal, pelas novas regras do sistema, a transparência das operações em tempo real na internet não permite o chamado "jeitinho brasileiro", em que convênios são celebrados só para produzir um efeito político.

Não são raros os casos em que a autoridade sabe que as obras previstas no papel jamais serão executadas, porque o Orçamento para as transferências voluntárias já havia estourado quando da assinatura do documento. Agora, porém, a política terá de obedecer à matemática financeira. O novo sistema não permite ao ministro assumir compromissos acima do limite de seu orçamento.

sábado, outubro 18, 2008

NECESSIDADE DE ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DA SEGURANÇA PÚBLICA ESTADUAL

Para Hélio Bicudo, confronto entre polícias reacende debate sobre unificação

William Maia

O confronto entre policiais militares e civis ocorrido em São Paulo nesta quinta-feira (17/10) deve colocar novamente em debate a questão da unificação das corporações, com a desmilitarização dos agentes de segurança do Estado. Essa é a opinião do jurista e ex-vice-prefeito da Capital Hélio Bicudo. "Não existe segurança pública de verdade com duas forças, cada uma caminhando para um lado diferente", afirmou.

Para o jurista, sempre existiu muita resistência à questão, especialmente por parte dos militares. "É um debate que já deveria ter sido feito, mas que não aconteceu por causa do lobby da Policia Militar, aliada ao Exército —não podemos esquecer que a PM é uma força de reserva do Exército—, que tem grande interesse de manter a polícia militarizada", disse Bicudo.

Em sua opinião, um ponto importante a ser questionado seria a existência de uma Justiça separada para os policiais militares. "Agentes que cometem crimes comuns são julgados como se tivessem cometido crimes militares, em uma Justiça que é corporativa. Basta ver os resultados dos julgamentos para se verificar que o índice de impunidade é quase de 90%. O que é uma mola para a violência policial", afirma Bicudo.

Ele destacou também que a atual organização da PM seria fruto de uma herança da Ditadura Militar, que deu a ela as atribuições que conserva até hoje, por causa do lobby militar na Assembléia Constituinte. "A Carta de 88 fez um corte entre a atuação da Polícia Militar e da Polícia Civil. A militar atua até a porta da delegacia, a partir daí assume a policia civil. Acontece que muitas vezes as coisas ficam embaralhadas", ressaltou.

O jurista lembrou, por exemplo, a dificuldade para se investigar um crime cometido por um policial militar em encontro com supostos bandidos, que na verdade seriam "encontros para a eliminação de bandidos", em sua opinião.

Confronto
Ao comentar o embate entre PMs e policias civis, que, em greve há mais de um mês, tentavam chegar ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Bicudo preferiu não se posicionar sob uma suposta intransigência da administração estadual nas negociações.

Entretanto, ele acredita que tenha faltado bom senso e habilidade, por parte do governo em administrar a crise. "Na medida em que o governo já sabia que os policiais civis iriam ao palácio para reivindicar salários, e coloca barreira de policiais militares, é evidente que propicio o encontro, com todas as conseqüências que isso poderia causar", disse o jurista.

O ex-vice-prefeito disse, por outro lado, não acreditar que o episódio possa caracterizar um estado de ruptura das instituições. "Nos últimos tempos, até caminhava-se para uma maior harmonização das atuações das duas forças", observou.

Com relação às reivindicações dos grevistas, Bicudo disse considerar muito baixos os salários pagos aos policiais civis de São Paulo. "É por isso que existe o famoso ´bico´, que pode até ser a menor conseqüência, quando se pensa na participação de policiais em grupos de extermínio", mas lembrou que é uma realidade do país, não só de São Paulo.

Área de segurança
Para Hélio Bicudo, a resolução da Secretaria de Segurança Pública do Estado que proíbe manifestações nas imediações do Palácio dos Bandeirantes fere princípios constitucionais. "É arbitrário. A rua é pública até o muro das casas, sejam elas de quem for. Se formos seguir essa lógica, o mesmo deveria valer para ruas próximas a estádios de futebol, por exemplo", completa.

O inciso XVI, do artigo 5º, da Constituição Federal, assegura que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente´.

A reportagem de Última Instância procurou por telefone a Secretaria de Segurança Pública até as 20 horas da sexta-feira (17/10), mas não obteve resposta.

Sábado, 18 de outubro de 2008

sexta-feira, outubro 17, 2008

AQUIDAUANA - MS: ARRANCADA PARA ERRADICAÇÃO DO "CORONELISMO" POLÍTICO

Eleições em Aquidauana repercutem no Estado


Crepúsculo dos coronéis
Do Jornal Boca do Povo
www.bocadopovonews.com.br

“Durante décadas os herdeiros do falecido ‘coronel’ Zelito mandaram
e desmandaram na pequena Aquidauana. Nesta eleição o Povo resolveu virar essa página. Quando outras cidades que ainda vivem com o pé no ‘coronelismo’ seguirão esse exemplo?”

O povo de Aquidauana virou a página das elites fazendeiras, forçando a cidade ingressar no surto de progresso ao romper com a esmaecida figura do “coronelismo” que sobreviveu neste Estado desde os primórdios do século passado. A vitória do empresário Fauzi Suleiman (PMDB), que derrotou Odilon Ribeiro, neto do “último dos coronéis”, inaugura uma nova era dos destinos da cidade. Tio do atual prefeito Felipe Orro, Odilon é cunhado do ex-deputado Roberto Moacar Orro, que antes de encerrar sua vida pública presenteou o filho com a administração da cidade.

Felipe Orro foi o derradeiro herdeiro do “coronelismo” inaugurado por seu avô, o ‘coronel’ Zelito, que administrou a cidade por três mandatos a partir de 1958. Felipe foi um prefeito sem tino administrativo. Comenta-se, que as suas mais importantes decisões administrativas e políticas foram comandadas por sua mãe, filha de Zelito, portanto, na atual administração o prefeito que não fez sucessor pode não ter passado de uma espécie de ‘tertius” da própria mãe.

A cidade, considerada portão do Pantanal, famosa pela sua “TFP” (Tradicional Família Pecuarista), manteve até 05 de outubro a hegemonia política da elite fazendeira, até que os currais eleitorais estouraram. O aristocrático e seleto grupo iniciado por Tico Ribeiro, agonizou e capitulou.

A derrota de Odilon Ribeiro fecha as cortinas da “Era de Coronelismo” deixada para trás. Aquidauana se liberta do fantasma com mais de 50 anos de atraso. Sua política da época do “pé-de-botina” ruiu. Nos momentos finais ainda mostrou os ameaçadores dentes de uma engrenagem que teimava em moer o prestígio dos oponentes, sendo necessária a intervenção da Força Nacional para conter os acirrados ânimos. A eleição de Fauzi – o Libertador – pode ser entendida como uma vitória do povo. Muitas cidades sul-matogrossenses ainda vivem no “cabresto político” de decadentes “elites fazendeiras” que ainda mandam na sua política num processo de transferência de poderes para os mais novos. São os “herdeiros” dos antigos “coronéis”. Alguns demonstram inteligência administrativa como o prefeito Humberto Rezende (PMDB), de Terenos, que recebeu a cidade de porteira fechada, presenteada pelo seu avô, o ex-prefeito Alonso Honostório de Rezende, cassado da administração por corrupção e compra de votos. Beto foi reeleito, recebendo nas urnas 74,4% dos votos.

Coronelismo

Símbolo de autoritarismo e impunidade, o coronelismo remonta ao caudilhismo e o caciquismo dos tempos da colonização. Ganhou força no primeiro reinado, chegando ao final do século XIX tomando conta da cena política brasileira.

Conjunto de ações políticas de latifundiários – coronéis – em caráter local, regional ou federal, onde se aplica o domínio econômico e social para a manipulação eleitoral em causa própria ou de particulares, o fenômeno, que se findou em Aquidauana, ainda sobrevive em algumas cidades sul-matogrossenses dependentes da pecuária.

Fenômeno social e político típico da República Velha, caracterizado pelo prestigio de um chefe político e por seu poder de mando, as raízes do coronelismo provem da tradição patriarcal brasileira e do arcaísmo da estrutura agropecuária no interior remoto do país. Surgida com a criação da Guarda Nacional em 1831, pelo governo imperial, as milícias e ordenanças foram extintas e substituídas pela nova corporação.

A Guarda Nacional passou a defender a integridade do império e a Constituição. Como os quadros da corporação eram nomeados pelo governo central ou pelos presidentes de província, iniciou-se um longo processo de tráfico de influencias e corrupção política. Como o Brasil se baseava estruturalmente em oligarquias, esses líderes, os grandes latifundiários e oligarcas, começaram a financiar campanhas políticas de seus afilhados, e ao mesmo tempo ganhar o poder de comandar a Guarda Nacional.

Devido a esta estrutura, a patente de coronel da Guarda Nacional, passou a ser equivalente a um título nobiliárquico, concedido de preferência aos grandes proprietários de terras. Desta forma conseguiram adquirir autoridade para impor a ordem sobre o povo e escravos. Devido ao seu território continental, portanto à falta de mecanismos de vigilância direta dos coronéis pelo poder central, e pela população pobre e ignorante, o Brasil passou a ser refém dos coronéis, que por sua vez ‘personificaram a invasão particular da autoridade pública”.

O sistema criado pelo coronelismo passou a favorecer os grandes proprietários que iniciaram a invasão, a tomada de terras pela força e a expulsão do pequeno produtor rural, que passou a se transformar numa figura servil em nome dos novos senhores. Portanto, surgiu a figura do coronel sem cargo, qualificado pelo prestígio e pela capacidade de mobilização eleitoral.

O “coronelismo” aquidauanense surgiu depois do episódio da Rusga, e iniciou com a montagem da Fazenda Taboco, numa área de mais de 300 mil hectares. Desses investimentos surgiu a cidade de Aquidauana e implantou-se o poder político nas mãos de uma única família.

Do Jornal Boca do Povo
www.bocadopovonews.com.br
Divulgação: Assessoria

quinta-feira, outubro 16, 2008

'Com ACM, morre o coronelismo?' (Flávio Aguiar – Carta Maior)


Da 'Carta Maior', por sugestão do Cristiano F. Cezar (que diz que esse artigo tem muita coisa a ver com a nossa realidade local):


Com a morte de Antonio Carlos Magalhães, que já foi chamado de tudo, de Toninho Malvadeza a Condestável da Nova República, desaparece um dos mais expressivos herdeiros do estilo coronelista de exercer o poder.

Flávio Aguiar – Carta Maior

SÃO PAULO - Antonio Carlos Magalhães não era um coronel tradicional. Seu poder não vinha, originalmente, da posse da terra. Era ligado a impérios da comunicação e aos centros urbanos. Mas tinha o estilo dos velhos coronéis, talvez mais do que ninguém. Sua morte, aos 79 anos, é mais um sinal dos tempos, de que pelo menos na política institucional este estilo vem definhando, substituído por outros tipos de conluio e dominação.

O coronelismo possuía duas características fundamentais: o mandonismo (que podia ou não se aliar ao carisma) pessoal e a agregação tribal. Antonio Carlos Magalhães praticava as duas, e tinha carisma pessoal na Bahia, sem dúvida. Foi partícipe de uma tragédia política e familiar: a morte do filho Luís Eduardo Magalhães, na casa dos quarenta, que era para ser o grande sucessor "moderno" do patriarca. O deputado federal ACM Neto e o filho do velho senador, que o substituirá na tribuna, ainda não estão à altura de serem considerados de fato "sucessores" de ACM, embora sejam seus herdeiros políticos mais próximos.

O poder dos coronéis, que começou a medrar no Brasil graças à herança colonial e à formação da Guarda Nacional no Império, afirmou-se por completo com a Proclamação da República. Foi estilo político dominante até 1930, quando Vargas, centralizador em todos os seus estilos de governo, tanto o autoritário quanto o popular, fez seu alcance e poder declinar graças à ampliação (antes do Estado Novo) do poder de voto das massas urbanas (inclusive as mulheres) e sua política de industrialização.

Por isso nunca foi perdoado pelos velhos coronéis, nem por seus herdeiros "modernos", os oligarcas da imprensa brasileira, onde se reproduzia o estilo coronel de viver em política: mandonismo, tribalismo, reconhecimento de sua própria casta como a única preparada para exercer (ou poder falar para e do) poder.

O golpe de 1964 criou uma esdrúxula mas compreensível aliança política que fez remanescer, transformado, o estilo coronel de fazer política. Os golpistas, tanto os militares quanto os modernos empresários e tecnocratas dos centros urbanos do país, aliaram-se aos remanescentes do coronelismo nordestino. E num primeiro momento foram unanimemente apoiados pela imprensa de espírito oligarca. Assim, se a classe dos velhos coronéis já era quase parte da história pregressa, seu estilo sobreviveu nos centros urbanos que impulsionaram a modernização conservadora e excludente inclusive do próprio setor rural, durante o regime de 64 e a Nova República posterior.

Isso ajuda a entender a extensão do poder do senador agora falecido, que chegou a criar o "carlismo", a palavra e o agrupamento (tribo) hegemônicos na Bahia até as eleições recentes para prefeito e governador. A eleição surpreendente de Jaques Wagner, do PT baiano, ainda no primeiro turno, para o governo estadual, consolidou a impressão de que o carlismo encontrara seu Waterloo.

Entretanto, ainda está pra se ver se de fato o coronelismo está morrendo no Brasil, ou está se transformando num novo estilo tribal, desenvolvendo aquilo que os especialistas vêem como uma forma limite do coronelismo, que era o "colegiado". Hoje a política conservadora (mas também 'a esquerda, com freqüência) se faz em torno de colegiados que se agregam em torno de uma grife eleitoral. Por sua vez, a mídia oligárquica se organiza em torno de colegiados de grifes jornalísticas que desatam em quase uníssono campanhas antiesquerda e antipovo na política. Como quase tudo no Brasil, o coronelismo não morre, mas se transforma.


Escrito por missioneiro às 21h31
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terça-feira, outubro 14, 2008

Mercados têm dia de euforia com socorro sistêmico a bancos

A ação coordenada dos países ricos para assegurar a estabilidade do sistema financeiro provocou ontem euforia nos investidores e levou a uma disparada nas bolsas de valores। No Brasil, a Bovespa teve valorização de 14,66%, a maior desde 1999. A cotação do dólar caiu 7,76%, fechando em R$ 2,14.

O Estado de S. Paulo

domingo, outubro 12, 2008

Falta de liderança global agrava crise financeira

Folha de S. Paulo


A crise global já leva autoridades a reconhecer falhas na maneira como o mundo vem sendo governado e a propor uma “nova direção”. “Precisamos de um grupo financeiro mundial, um G8 ampliado, para tratar de um novo ordenamento das relações financeiras globais”, disse o ministro de Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, à edição da revista “Der Spiegel”. Esse novo G8 incluiria “potências econômicas emergentes como Brasil, Índia e China”. Para Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o G7 “não está funcionando”. A direção do FMI defende uma nova arquitetura regulatória global. Nos Estados Unidos, o vácuo de poder pré-eleitoral levou o presidente George W. Bush a instituir um gabinete de transição, o primeiro desde 92, para conversar com as campanhas de Barack Obama e John McCain na quarta-feira. (pág. 1 e Dinheiro)

sábado, outubro 11, 2008

Banco Central da China promete cooperação para frear crise global (Sistêmica)

e cooperação internacional com outras entidades centrais para atenuar os efeitos da crise financeira e conseguir a estabilidade dos mercados.

Em entrevista à emissora estatal CFTV, um porta-voz do banco central chinês declarou que a entidade "fortalecerá a cooperação com as instituições financeiras internacionais e os bancos centrais para combater conjuntamente a crise global e os riscos financeiros".

Na quarta-feira passada (8), o PBOC anunciou um corte de 0,27 ponto percentual nas taxas de juros, fixados agora em 6,93%, o segundo movimento de baixa em apenas três semanas.

Segundo o porta-voz, "a cooperação abrangerá políticas monetárias e tributárias, a indústria, exportações e políticas de regulação financeira, para ajudar a economia doméstica e equilibrar o âmbito internacional".

quarta-feira, outubro 01, 2008

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA; PAÍS ONDE O FRACASSO É RECOMPENSADO

Na atual crise financeira, o modelo de capitalismo dos Estados Unidos implodiu com um grande estrondo. Mas o governo Bush está tentando extinguir as chamas com mais combustível, em vez de água, e quer que os apostadores de Wall Street sejam recompensados pelo fracasso

Gabor Steingart
Em Washington (EUA)

Mais de cem anos atrás, o sociólogo alemão Georg Simmel criticou os bancos por ficarem cada vez maiores e mais poderosos do que as igrejas. A sua principal queixa - a de que o dinheiro é o novo deus dos nossos tempos - ainda é ouvida nos dias de hoje. Se Simmel estava certo, e há indicações de que de fato estava, a declaração teria que ser modificada para coadunar-se com as circunstâncias atuais: nem todo mundo reza para o mesmo deus.

Entre o grupo de adoradores de dinheiro, existem pelo menos três fés. A primeira é a dos Puritanos, que carregam pacientemente o dinheiro deles para as novas igrejas, esperando que ele se multiplique. O chinês típico, por exemplo, deposita 40% dos seus rendimentos em bancos. Que disciplina louvável! E há também os Pragmáticos. Estes poupam e emprestam, mas somente nesta ordem; a poupança é o fator que limita a ousadia deles. Esta linha é especialmente comum nos países germânicos, nos quais o banco de poupança é o templo religioso.

Finalmente, temos a comunidade religiosa dos Desinibidos, que é especialmente popular nos Estados Unidos. Os seus seguidores não se acanham em admitir a falta de cautela, o desperdício extravagante e a cobiça onipresente.

Eles chamam isto de "American way of life" ("estilo de vida americano"). Os seus membros vivem no aqui e no agora, sem fazer perguntas sobre o amanhã. Um empresta dinheiro ao outro, mesmo que o dinheiro não lhes pertença. Em vez disso, eles tomam quantias emprestadas com uma terceira pessoa, que prometeu conseguir o dinheiro com um quarto indivíduo - e assim por diante.

Southampton: o início do rastro de evidências

Esta comunidade religiosa é a mais fervorosa de todas. Há algum tempo, ela adotou a prática de tratar dinheiro antecipado como dinheiro real e de entender desejo como realidade. Atualmente ela não conta mais com nenhum fragmento de inibição.

Como todos sabiam que havia mais desejos do que dólares, o resultado inevitável foi uma certa lacuna de financiamento, ou déficit. Capitalismo sem capital - o núcleo audacioso desta inovação - não poderia funcionar. Não há salvação terrena - pelo menos esta foi uma conclusão quanto à qual o antigo Deus, aquele que carregou a cruz, e o novo deus, o que traz cifrões nos olhos, poderiam concordar.

E, assim, o inevitável ocorreu: o big bang. Três entre cada cinco bancos de investimento dos Estados Unidos perderam a independência, e os outros dois ainda estão afundando. Dois bancos de hipotecas e uma companhia de seguros encontram-se agora sob administração governamental.

O sistema financeiro global foi abalado, horrorizando os membros das outras duas fés. Pode haver três religiões, mas só há um céu. Se este cair, todos morrem.

Uma busca por evidências a fim de identificar os responsáveis deveria provavelmente começar em Southampton, um reduto da elite endinheirada. Nesta cidade, na parte leste de Long Island, perto da cidade de Nova York, é possível presenciar o quanto a cobiça pode ser atraente.

Trata-se de um lugar no qual as opções de ações foram transformadas às centenas em castelos de contos de fadas à beira-mar. Aproveitando-se das brechas tarifárias, os gurus financeiros de Wall Street conseguiram retirar os seus bônus da cidade mais ou menos intactos. Segundo a legislação tributária dos Estados Unidos, a compensação na forma de ações e garantias é taxada em menos da metade do índice mais elevado de impostos. Como resultado, a taxa tributária que incide sobre os rendimentos de muitos banqueiros é inferior àquela a que estão sujeitos os salários das suas secretárias.

Como menos transformou-se em mais

Os donos destas mansões à beira-mar não estão lá neste momento, de forma que uma investigação mais profunda requer uma viagem de trem até Nova York. No arranha-céu de Midtown que abriga os escritórios do Lehman Brothers, que está em processo de encerramento da sua história, há muito o que descobrir a respeito da seqüência de eventos. Bilhões de dólares foram emprestados a pessoas que não tinham crédito para que elas adquirissem condomínios e casas de pouco valor. No jargão alegre e cínico dos banqueiros, esse tipo de empréstimo foi batizado de "NINA", acrônimo de "No Income, No Asset" ("Sem renda, sem bens").

Mas mesmo assim as coisas andavam bem no mundo dos financiadores. O aumento miraculoso da oferta de dinheiro contribuiu para que o preço de imóveis subisse mais de 70% entre 2000 e 2006. A indústria conseguiu obter lucros aumentando o risco. Pelo menos na folha de balanço, o menos se transformou em mais.

Em tempos melhores, alguém poderia ter chamado os banqueiros de empreendedores; atualmente, eles são chamados de irresponsáveis. Antes mesmo do surgimento da expressão banco de investimentos, Karl Marx sabia como as duas coisas estavam vinculadas: "O capital tem tanto horror à ausência de lucro ou de um lucro muito pequeno quanto a natureza tem horror ao vácuo. Com um lucro apropriado, o capital é despertado; com 10% de lucro, ele pode ser usado em qualquer lugar; com 20%, torna-se vivaz; com 50%, fica positivamente ousado; com 100%, ele esmagará com os pés todas as leis humanas; e com 300%, não existe crime que ele não se disponha a cometer, ainda que se arrisque a ir para a cadeia".

A fé de Paulson

Agora o rastro conduz de Nova York a Washington, onde o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, tem o seu gabinete na Avenida Pensilvânia. O seu ministério é tão importante que há um portão ligando o subsolo do Departamento do Tesouro ao da Casa Branca. A atitude adotada por Paulson em relação aos bancos foi a de deixá-los atuar livremente, e ele agora pretende assumir os prejuízos dessas instituições. Para os altos círculos financeiros, ele tornou-se algo como uma garantia extra. O objetivo dele é eliminar a ameaça de cadeia - mas não a cobiça.

Paulson já foi um banqueiro de Wall Street. Ele é um homem de boas maneiras e princípios firmes. Em tempos normais, ele tem fé no mercado, em Deus e em George W. Bush. Mas em tempos como estes, ele prefere depositar a sua fé no governo, no contribuinte e em Bush.

Ao contrário do que muito se anunciou, Paulson não pretende utilizar as rendas obtidas com impostos para financiar o pacote de socorro aos bancos. Em vez disso, a intenção dele é tomar novos empréstimos de bilhões de dólares em nome do Tesouro dos Estados Unidos. "Detesto o fato de termos que fazer tal coisa, mas isto é a melhor do que a única outra alternativa", disse ele na semana passada. O presidente já deu o seu sinal de aprovação.

É isso o que acontece com as comunidades religiosas quando sofrem pressões: elas tornam-se ainda mais fervorosas. A idéia é que o mesmo tipo de pensamento de curto prazo que provocou o desastre vá agora pôr um fim a esta situação calamitosa. O governo está tentando extinguir o fogo com combustível, e não com água. Na verdade, este é exatamente o mesmo combustível que deu início ao incêndio em Wall Street: dinheiro emprestado.

A única diferença é que os novos empréstimos não virão do sexto, do sétimo ou do oitavo membro da comunidade religiosa. Eles serão coletados de todos os contribuintes. Isso significaria o fim da separação entre igreja e Estado, sendo que Wall Street se tornaria a religião nacional.

Os pontos em comum com as outras duas comunidades religiosas já estão desaparecendo. Coisas que na época da tradicionalmente honrada economia de mercado eram consideradas inseparáveis - como valor e consideração, salário e desempenho, risco e responsabilidade - estão sendo agora rasgadas em nome do governo. O capitalismo atualmente exibido pelos Estados Unidos é uma versão rota e degradada daquilo que costumava ser.

As ações dos políticos estão amplificando, em vez de mitigar, os efeitos do fracasso econômico. O capitalismo no estilo norte-americano ainda não morreu, mas está simplesmente preparando o seu próprio falecimento. A história destes dias é a história de uma morte que já foi anunciada. O que nos leva a Miss Marple.

Começou um jogo perigoso com o tempo

A detetive amadora imaginada por Agatha Christie, baseada na avó da escritora, era equipada com algo mais do que apenas um senso de humor e uma compreensão da natureza humana. Ela também tinha experiência em relação a coisas óbvias que ninguém acredita serem possíveis - até que elas aconteçam. No seu romance de 1950, "A Murder is Announced" ("Convite para um Homicídio"), Christie olhou para o futuro de maneira cômica.

A história transcorre mais ou menos assim: certa manhã, os cidadãos leram a seguinte mensagem nos classificados de um jornal local: "Um assassinato foi anunciado e ocorrerá na sexta-feira, 29 de outubro, em Little Paddocks, às 18h30. Amigos, por favor aceitem isto, a única intimação". Na hora designada, metade da vila reuniu-se na casa onde o assassinato supostamente aconteceria. A advertência é tratada como uma piada frívola, que ninguém desejaria rejeitar. Serve-se sherry aos presentes. O grupo é tomado por um pânico coletivo. Exatamente às 18h30, as luzes apagam-se.

"Não é maravilhoso?", diz uma voz feminina. "Estou trêmula".

Quando as luzes voltam a acender-se - para a surpresa de todos - um crime foi cometido. E agora nós, assim como os presentes na sala em Little Paddocks, estamos de pé, sussurrando, tomados pelo medo coletivo, aguardando para ver o que acontecerá a seguir. E ninguém acredita seriamente que um crime de verdade está prestes a ocorrer.

"Todos estavam em silêncio e ninguém se movia. Todos olharam para o relógio... Quando a última nota terminou, todas as luzes apagaram-se. Murmúrios de alegria e gritinhos femininos de satisfação foram ouvidos no escuro. 'Está começando', gritou a senhora Harmon, extasiada".

Um futuro vendido

Quem quer que espere receber um alerta antecipado deveria simplesmente expandir o seu campo de visão enquanto as luzes permanecerem acesas.

As companhias de cartão de crédito dos Estados Unidos não estão em uma situação significativamente melhor do que os bancos. Elas também venderam o futuro e até mesmo uma parcela do período posterior a ele.

A indústria automobilística norte-americana também se encontra seriamente combalida e tem dificuldades para estender as suas linhas de crédito no mercado aberto. A indústria perdeu mais de 300 mil empregos desde 1999. Mas qual é o benefício disto se são os gerentes - e não os trabalhadores - os culpados pela crise? A enorme conta dos Estados Unidos com a compra de petróleo - cerca de US$ 500 bilhões (? 345 bilhões) - é atualmente paga com dinheiro emprestado pela China. A cada dia útil, a dívida externa dos Estados Unidos aumenta em quase US$ 1 bilhão (? 690 milhões).

Provavelmente a pílula mais amarga de engolir nos Estados Unidos de hoje é o fato de os lares privados não estarem administrando as suas finanças de maneira melhor do que os executivos de corporações. Estes lares vêem o reflexo de suas imagens nos banqueiros de Wall Street, e não uma espécie de figura destorcida de si próprios. "De fato, não conheço nenhum país no qual o amor pelo dinheiro tenha se estabelecido tão fortemente no sentimento dos homens", observou Alexis de Tocqueville 170 anos atrás.

A conversa há muito necessária entre o governo e os governados ainda não se materializou. Essa teria que ser uma conversa a respeito da relação entre a economia e os valores, sobre a recuperação daquilo que se perdeu, em vez de sobre expansão. A palavra frugalidade - que desapareceu do vocabulário dos Desinibidos - deveria ser reintroduzida.

Mas não há sinal de que nada disso esteja acontecendo. Os Estados Unidos de hoje são muito estadunidenses para sobreviverem na sua forma atual. Mas os Estados Unidos atuais são também muito orgulhosos para perceberem isto. Os fiéis dificilmente permitiriam que alguém os convertesse.

Assim, a nossa compreensão dos acontecimentos continua ficando cada vez menos clara. Teve início um jogo perigoso com o tempo.

"O ruído de duas balas sacudiu a complacência da sala. Subitamente, o jogo não era mais um jogo. Alguém gritou... 'Luzes'. 'Não consegue encontrar um isqueiro?'...'Oh, Archie, quero sair daqui'".

Tradução: UOL
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