quinta-feira, abril 10, 2008

FHC REALIZA UMA ABORDAGEM SISTÊMICA DA SOCIEDADECONTEMPORÂNEA À NÍVEL PLANETÁRIO

09/04/2008 - 21h17
FHC dá palestra no Porto e defende lideranças mundiais


Porto, 9 abr (Lusa) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alertou para os novos problemas originados pelos países emergentes, num quadro mundial multipolar, defendendo a necessidade de lideranças fortes que conduzam à mudança.

"O mundo hoje não é mais bipolar nem baseado numa hiperpotência, mas tem vários centros, é multipolar", disse Fernando Henrique, durante uma conferência na Fundação de Serralves, no Porto.

O ex-presidente brasileiro falou de improviso durante cerca de uma hora, perante um auditório lotado, apresentando a sua análise do que é o mundo contemporâneo e do que poderá ser a política mundial nas próximas duas décadas.

"Vejo com grande preocupação a falta de grandeza das lideranças contemporâneas", afirmou, admitindo que a definição das eleições norte-americanas "pode ter um efeito muito grande no mundo".

Para Fernando Henrique, "as mudanças são de tal ordem que podemos ter esperança" no aparecimento de lideranças que "falem com força" e que protagonizem uma reforma profunda das Nações Unidas.

"Não é de uma reforminha que precisamos, mas de uma reestruturação profunda das bases da ONU", defendeu, ressaltando que o atual Conselho de Segurança apenas existe para "dizer sim ou não aos países que têm direito de veto".

O ex-presidente lembrou que "a ONU não foi criada para que todos fossem iguais, mas para que o mundo vivesse em paz", na mesma época em que surgiram o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio.

Nova ordem mundial

Segundo Fernando Henrique, o fim da guerra fria e da bipolarização entre EUA e União levou alguns setores norte-americanos a acreditar que seu país surgiria como uma hiperpotência.

O ex-presidente disse que esta hiperpotência nunca se afirmou porque a Europa conseguiu se unir, países como o Brasil e a Índia começaram a se afirmar no cenário mundial e a China protagonizou "um deslocamento muito rápido da periferia para o centro" da política mundial.

"Hoje, há novos centros de poder, o mais visível dos quais é a China", afirmou, lembrando que "quase toda a América Latina se livrou do problema da dívida devido ao aumento dos preços provocado pela China".

Na nova ordem mundial, de acordo com ex-governante brasileiro, é preciso também contar com a reorganização da Rússia, que pretende se assumir como "superpotência energética", e estar atento a uma possível aliança Moscou-Pequim.

Questões contemporâneas

Fernando Henrique ainda apontou o papel da União Européia no cenário mundial, a evolução do mundo islâmico e o futuro da África como questões a serem analisadas para o futuro.

"Será que vamos deixar a China fazer na África o que fizeram alguns países europeus?", questionou, alertando que a presença chinesa no continente africano "rege-se estritamente pelo interesse estratégico chinês e não pelo que é melhor para a África".

Na conclusão do seu raciocínio, o ex-presidente brasileiro defendeu que "o mundo dos próximos 20 anos exige uma imensa capacidade negociadora", defendendo que "a força não resolve as questões".

"O poder militar, por mais forte que seja, não é suficiente para colocar ordem no mundo", afirmou, lembrando a atuação das Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque.

UOL

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