domingo, março 11, 2007

ALEM MAR, UMA VISÃO SISTÊMICA ECOLÓGICA E CIBERNÉTICA DA POBREZA

Em matéria intitulada “Globalização e egoísmo esclarecido”, de autoria de Anselmo Borges, publicada no Diário de Notícias de Portugal e, no blog JoanaRSSousa, estão contidas todas as características da visão sistêmica ecológica cibernética.

O título, por si só, já é sistêmico, pois envolve um aspecto de abrangência planetária – a globalização, - uma característica do nosso tempo e do futuro, constituindo um processo inevitável, ambivalente, o qual implica na existência de ganhadores e perdedores, capaz de conduzir, tanto ao milagre econômico como ao descalabro.

Entretanto, trata-se de um processo que pode ser dirigível, orientado, reajustável, portanto cibernetizável, isto é, factível através de uma globalização ética, que funcionaria, entre outros, como mecanismo de “feedback” social, cujo sentido ecológico seria a transformação do ambiente global do planeta.

O iníquo modelo econômico-social vigente é traduzido por J. Stiglitz, Prémio Nobel da Economia, 2001, referindo-se ao Fundo Monetário Internacional, como "fundamentalismo neoliberal" e, em seu livro - Making Globalization Work -, “faz notar que mais vale ser uma vaca na Europa do que uma pessoa pobre num país em vias de desenvolvimento”.

Enquanto as vacas européias recebem em média um subsídio diário de dois dólares, grande parte da Humanidade tem de viver com menos do que isso.

Face à estreita correlação desta nota com nossa postagem do dia 6 do corrente, transcrevemo-la:

SEM TETOS, TAMBÉM, NOS EUA

Anselmo Góis, em sua coluna (Globo de 5 de março de 2007), publicou:

“Lá e cá

Deu no “Washington Post”, o jornalão americano.

Cerca de 754 mil pessoas ficam sem teto toda noite nos EUA,, segundo pesquisa apresentada ao Congresso pelo Departamento de Habitação e desenvolvimento. Deve ser terrível viver num país assim...”

Com base nesta nota, duas constatações, entre outras, são óbvias:

- A pobreza, a miséria e a fome grassam no ambiente planetário, de maneira sistêmica, não se excluindo nem a maior economia do globo
terrestre.

- o sistema liberal americano não possui mecanismos de “feedback” para reajustar esta iníqua e desumana situação.

Quando o Presidente Bush vem à América do Sul, com a pretensão de “ajudar” os países mais pobres, não seria de bom alvitre trazer, como credencial, o fato de haver, primneiramente, extinguido a pobreza, em seu país?

Devemos utilizar todas as potencialidades do “ciberespaço” para desenvolvermos uma luta sistêmica e, sem trégua, a favor dos “excluídos”!

Mas não privemos o leitor de saborear, na íntegra, a matéria do culto articulista Anselmo Borges.

Ei-la:

Quarta-feira, Fevereiro 14, 2007

Globalização e egoísmo esclarecido

Quando se fala em fundamentalismo, é no fundamentalismo religioso que normalmente se pensa. Mas há outras formas. Pense-se concretamente no fundamentalismo económico. Já em 2001, ano em que recebeu o Prémio Nobel da Economia, J. Stiglitz, referindo-se sobretudo ao caso do Fundo Monetário Internacional, falava de "fundamentalismo neoliberal". Agora, no seu último livro - Making Globalization Work -, faz notar que mais vale ser uma vaca na Europa do que uma pessoa pobre num país em vias de desenvolvimento. Enquanto as vacas europeias recebem em média um subsídio diário de dois dólares, grande parte da Humanidade tem de viver com menos do que isso.A globalização é inevitável. Ela é também ambivalente, isto é, tem ganhadores e perdedores. Ela pode levar ao milagre económico e ao descalabro. Mas, como sublinhou o teólogo Hans Küng, é sobretudo importante perceber que ela é "dirigível".O facto de poder ser orientada significa que a globalização económica exige uma globalização no domínio ético: impõe-se um consenso ético mínimo quanto a valores, atitudes, critérios, um ethos mundial para uma sociedade e uma economia mundiais. É o próprio mercado global que exige um ethos global.Há uma responsabilidade social da economia? M. Friedman, também Prémio Nobel da Economia e um dos economistas mais influentes do século XX, recentemente falecido, respondeu de forma provocante em 1970 no título de um artigo no The New York Times Magazine: "The Social Responsability of Business Is to Increase Its Profits". Não será, porém, necessário perguntar se a responsabilidade moral no domínio económico se identifica com o incremento insaciável do lucro?O que hoje se sabe é que nem o socialismo nem a mão invisível do mercado abriram as portas do paraíso à Humanidade. Assim, à economia de mercado tout court é preciso contrapor a economia de mercado com sentido social e ecológico à escala global. O Homem não se identifica pura e simplesmente com o homo oeconomicus. Não se pode deixar de estar de acordo com Hans Küng: "Nem todas as necessidades dos seres humanos podem ser satisfeitas com o que a economia produz." Em ordem ao bem-estar, a uma sociedade boa, a uma vida feliz, para os seres humanos, incluindo os capitalistas, não basta a economia. Por outro lado, concretamente neste tempo de globalização, ela tem de estar ao serviço das necessidades de todos os seres humanos, não os subordinando implacavelmente à lógica do mercado. Para preservar a dignidade do Homem e relações dignas dele, nem a economia nem a política podem ter o primado, que pertence à dignidade inviolável do ser humano e aos seus direitos inalienáveis. Face à economia, é preciso defender o primado da política, mas, face à economia e à política, saber que o primado tem de ser o da humanidade do Homem, de todos os homens.Continuam a morrer no mundo à fome milhões de seres humanos, o que é intolerável. É um imperativo ético ajudar os países pobres no seu desenvolvimento. Ora, sempre será preferível ajudar no desenvolvimento as pessoas nos seus próprios países a ter de levantar barreiras e muralhas à volta do mundo desenvolvido e assistir à entrada, sem controlo possível, de multidões à procura de uma vida melhor, com todos os efeitos de turbulência inevitável a médio prazo.Em última análise, é o modelo moderno de desenvolvimento, com a sua ideologia do progresso ilimitado, que está na base da crise ecológica e também da injustiça entre o Norte e o Sul. Assim, a construção da casa comum da Humanidade exige uma nova consciência ética (veja-se a ligação entre ethos e oikos, com o significado de casa e habitação, em conexão com ética, economia e ecologia), aliada a uma nova proposta político-cultural global para uma nova ordem económico- -ecológica global.Hoje, atendendo às relações existentes entre os países ricos e os países pobres, à limitação dos recursos e à ameaça ecológica - aumentam as certezas científicas quanto à responsabilidade humana nas mudanças climáticas -, damo-nos pela primeira vez conta de que, face ao perigo em que nos encontramos todos, se impõe que a Humanidade, se quiser ter futuro, se tem de tornar sujeito activo comum da responsabilidade pela vida. Ou a Humanidade como um todo se torna sujeito do seu futuro e da responsabilidade pela vida em geral ou não haverá futuro para ninguém.Em termos simples e cínicos: se não quisermos ser solidários com os países pobres por razões de ética e humanidade, sejamo-lo ao menos por razões de egoísmo esclarecido.»Anselmo Borges (artigo do Diário de Notícias)
Partilhado por JoanaRSSousa hoje Quarta-feira, Fevereiro 14, 2007 0 perspectivas

Para ver o blog referido, clique aqui:

http://joanarssousa.blogspot.com/

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