Moscou espera se reaproximar da UE na cúpula de Nice
Por José Milhazes, da Agência Lusa
Moscou, 12 nov (Lusa) ? A Rússia espera que a cúpula de Nice, que será realizada em 14 de novembro, na França, relance as relações bilaterais com a União Européia, responsabilizando o bloco europeu pela sua pausa.
A reunião UE-Rússia de Khanta-Mansiisk, realizada em junho deste ano, deveria pôr fim à estagnação dos anos anteriores e abrir uma "nova fase" dos contatos, sobretudo em relação à assinatura do novo Acordo Estratégico, que norteia as relações entre Moscou e Bruxelas.
Porém, a "nova fase" foi curta e terminou quando as tropas russas, em agosto, entraram no território georgiano a pretexto da "defesa da segurança dos cidadãos da Rússia residentes na Ossétia do Sul", região separatista da Geórgia.
Na cúpula extraordinária da UE, realizada em 1º de setembro, o bloco praticamente congelou as relações com Moscou e, por isso, a reunião de Nice poderá servir para que ambos definam posições em relação à cooperação futura.
"A União Européia decidiu que já castigou suficientemente a Rússia pela "guerra do Cáucaso" e "pode pôr fim à pausa diplomática no processo de estabelecimento de novas relações de parceria com Moscou", publicou Andrei Fediachin, comentarista político da agência oficiosa RIA Novosti.
Fediachin também escreveu que o Kremlin continua apostando nas divisões internas da UE sobre os russos.
"Na última reunião de Bruxelas, a Lituânia (país que se opõe ao reatamento das conversações com Moscou sobre a assinatura do novo Acordo Estratégico) teve uma surpresa desagradável. Contava com o apoio da Polônia, da Grã-Bretanha e dos "vikings", mas nada recebeu além da traição... A União precisa de avançar com as conversações porque alguns países da UE (não se enumeram abertamente, mas trata-se da Itália, Alemanha e França) já estavam prontos para assinar acordos bilaterais com a Rússia", acrescenta.
"Para a UE, a Rússia não é apenas uma fonte de gás. A Rússia é um enorme mercado de consumo da produção européia. E com mercados desses não se discute", frisou o analista.
Comércio Exterior
O comércio entre a Rússia e a União Européia cresceu, até o final de outubro, 37 bilhões de euros (R$ 103,2 bilhões) em comparação com o mesmo período de 2007, atingindo 170 bilhões de euros (R$ 474,3 bilhões) no acumulado do ano.
Moscou não esconde que a sua intenção é focar novos mercados. Se, nas diretrizes da política externa russas, aprovadas em 2000, as relações com a UE tinham uma "importância crucial", em 2008, o documento passou a considerar a UE como "um dos parceiros fundamentais econômicos, comerciais e da política externa".
"A crise demonstrou que, primeiro, a Rússia, a Europa e os Estados Unidos encontram-se no mesmo barco e, segundo, são as empresas russas que devem aos bancos ocidentais, e não o contrário", disse Arkadi Moshes, analista de relações internacionais.
"Além disso, continua a aumentar o saldo comercial negativo com a China numa situação em que a última não pretende pagar, ao contrário da Europa, preços de mercado pelos hidrocarbonetos russos", acrescentou.
Nesta situação, Nice poderá reavivar o diálogo, mas não é completamente claro o rumo que vai tomar.
"O início das conversações não significará um salto. O salto será dado no seu fim", concluiu Vladimir Tchijov, embaixador russo em Bruxelas.
UOL
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