sábado, novembro 29, 2008

Governo pressiona banqueiros por redução dos juros

SHEILA D'AMORIM
da Folha de S.Paulo, em Brasília
KENNEDY ALENCAR
DENYSE GODOY
da Folha de S.Paulo

Falando a cerca de 200 banqueiros na noite de anteontem em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro que é intenção do governo liderar uma cruzada pela redução dos "spreads" bancários, mas não deu pistas das medidas que podem ser adotadas.

Durante o tradicional jantar de final de ano promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Mantega afirmou que o custo financeiro elevado está dificultando a retomada do nível de atividade e que "a prioridade do governo é reduzir esse custo para nível compatível com o crescimento sustentável da economia". "Se cada um fizer a sua parte, podemos ter crescimento de 4% em 2009. É um objetivo ambicioso, mas exequível", destacou, referindo-se à importância da recuperação do mercado de crédito para o crescimento econômico.

Para essa estratégia do governo Luiz Inácio Lula da Silva, reduzir o "spread" bancário (a diferença entre o custo de captação do dinheiro e o juro cobrado dos clientes) tem importância fundamental.

Na platéia, banqueiros de todos os tipos: os que estão à venda e os que estão indo às compras em tempos de crise, gente que só precisa de um pouco de dinheiro para esperar a tempestade passar e aqueles que possuem recursos de sobra em caixa mas ficam com receio de emprestar, executivos que já anunciaram queda dos juros por imposição do governo e outros que resistem à idéia neste momento.

Diplomacia

Mas, como o jantar era de confraternização, a diplomacia se sobrepôs às divergências. As estocadas foram sutis e ocorreram antes de os executivos e as autoridades se dedicarem às garfadas no filé ao molho de cogumelos. A partir daí, eles eram só sorrisos mútuos.

Anfitrião da festa, Fábio Barbosa, presidente da Febraban, fez questão de frisar que os números divulgados nesta semana pelo Banco Central mostram que "o sistema [bancário] não deixou de operar". Criticado nos bastidores do governo por declarar que, em razão da crise mundial, o crédito irá se acomodar num patamar de crescimento menor e que há um "congestionamento no mercado", já que, com a falta de linhas externas, as empresas estão procurando empréstimos em reais, ele deu seu recado.

Seu discurso teve tom de um sutil desagravo e bem que poderia ter sido precedido da frase: "Como eu disse e não quiseram acreditar".

Também presente ao evento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não encampou abertamente a campanha do governo por redução dos "spreads" -apenas disse, em tom de crítica, que é necessário evitar a alternância de momentos de "excessos" e "retração" no crédito.

Apesar de, nas reuniões da equipe econômica com o presidente Lula, ser favorável à tese, na frente dos banqueiros ele optou por discutir a situação econômica internacional.

Mais provisão

Meirelles defendeu um aumento na provisão dos bancos em momentos de bonança do crédito para poder fazer frente aos momentos de dificuldades --provisão é a parcela de recursos que as instituições financeiras são obrigadas a deixar reservada para cobrir eventuais calotes nas operações de crédito. Citou especificamente o modelo espanhol, que prevê provisão adicional à necessária para garantir a solidez do sistema financeiro toda vez que o crédito fica acima de um patamar determinado pelo governo. Com isso, forma-se uma reserva que pode ser usada em períodos de vacas magras.

Apesar de destacar que os bancos brasileiros operam com um bom nível de provisões e que isso se mostrou acertado com a crise deste ano, ele defendeu a aplicação de um mecanismo pro-cíclico nessa área, mas disse que isso precisaria ser acertado entre os países.

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