terça-feira, outubro 27, 2009

PAULO FREIRE DESENVOLVEU NOVO CONCEITO DE LEITURA E ESCRITA: leia trecho

da Folha Online

"Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação", diz o professor e vice-presidente da TV Cultura Fernando José de Almeida, em seu recente livro "Folha Explica: Paulo Freire".

Lançamento de "Paulo Freire" ocorre nesta quarta (28), em SP

Divulgação
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire

De forma clara e objetiva, o título analisa a vida e a obra desse que é um dos maiores educadores do Brasil, mostra uma reflexão sobre a "pedagogia do oprimido", criada por Freire, e deixa clara a importância mundial de seus projetos político-pedagógicos.

Também destina um capítulo especial com cronologia e as principais obras do educador --que tem obras traduzidas para mais de 20 línguas.

Conheça, no trecho abaixo, os pensamentos de Paulo Freire e seu programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20, e que interferiu no mundo da educação em todos os continentes.

*

Ler o mundo para se libertar

O método criado por Paulo Freire para alfabetização de adultos foi, sem dúvida, sua maior contribuição à educação. Não apenas pela capacidade de alfabetizar em 40 horas. Seu sucesso está marcado pelo fato de ter desenvolvido um novo conceito de leitura - e com ele um novo conceito de escrita. Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.

A escrita é também objeto do pensamento e da vida. O mundo ao sul da linha do Equador é marcado pela oralidade; aqui, a escrita e a leitura são um distintivo de poder. Portanto, a criação de uma política de desenvolvimento de participação do mundo da leitura e da escrita significa redimir as massas excluídas de 500 anos de história. A leitura do mundo antecede a leitura das letras. A leitura assim é um fato político cultural de participação. Desse ponto de vista, um adulto ler frases como "vovó viu a uva" deixou de ser um fato educacional pacífico e virou um absurdo político, já que a frase não tem nenhum significado para o adulto que se alfabetiza. É um desrespeito a ele e o esvazia de sua dimensão cidadã.

Há 60 anos10, havia ainda 50% de analfabetos no país - por absoluta opção política. Dirigentes, classes médias e baixas, clero, latifundiários e minifundiários, políticos, todos achavam que os analfabetos eram uma espécie de praga, uma mancha na cultura nacional. Mais uma vez, a vítima era a culpada. Alguns viam os analfabetos como uma espécie que nasce por acaso e faz parte de um sistema ecológico de equilíbrio social. De lá para cá, houve progresso.

Em 2008, o estado de São Paulo chega ao menor número relativo de analfabetos na sua história: 4%. Pela primeira vez na história, o número de analfabetos maiores de 15 anos começa a diminuir a partir de 2002, chegando a 10 milhões em todo o país. Isso acontece pelo simples fato de que não geramos novos analfabetos, pois todas as crianças estão na escola. Mas o estoque de analfabetos se mantém e este número só abaixará pela morte deles!

Não acabamos ainda com o analfabetismo, embora estejamos acabando com os analfabetos. Todo o trabalho de Paulo Freire, todos os anos de exílio, todos os festejos na sua volta, não ajudaram o país a fazer a lição: dar direito à leitura e à escrita a seus cidadãos. Todos.

Elementos do seu método

O método construído por Paulo Freire a partir de sua prática pedagógica, em articulação com os carentes sociais e culturais de seu estado de Pernambuco, gerou um programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20. Pode-se dizer que esse método interferiu no mundo da educação em todos os continentes. Partindo de "temas geradores", o método propiciava uma reflexão do alfabetizando sobre os seus próprios problemas - o que gerava a necessidade de posicionar-se sobre tais questões e de expressá-las em formas próprias de comunicação. Com o método de Freire, os adultos não se sentiam alheios aos temas de sua escrita e a leitura virava um aprofundamento do que já vinham vivendo, em suas experiências como trabalhadores e cidadãos.

Se os temas geradores fossem, digamos, terra, latifúndio, favela, enxada, foice, casa, eram essas as palavras a serem lidas e escritas, com seus significados debatidos. Toda a gama de desmembramento de outras palavras era oriunda dessas sílabas componentes das palavras--temas. FA-VE-LA pode gerar: ve-la, fa-la, la-ve, lu-va, fa-va etc., assim como outras inúmeras composições com seus diversos grupos silábicos, num imenso repertório de possibilidades. Com isso, os jovens ou adultos constroem palavras nascidas de seu repertório "gerador"; e sendo elas debatidas, escritas e faladas, podem transformar as suas realidades pela práxis.

Os problemas de alfabetização não pararam aí: da perspectiva do método, o desafio contemporâneo é continuar a construir, com os leitores-aprendizes, a problematização sobre os temas geradores em cada nova realidade - como no mundo digital, especialmente. Tornado realidade pela reorganização do capitalismo volátil, o mundo digital deve ser também objeto de um novo processo da alfabetização. O mundo digital em nada é menos opressor ou menos desumanizador que o mundo do latifúndio ou da favela. São desafios mais sutis e mais encobertos em aparências de globalização democrática.

Como Paulo Freire pode ser chamado para ajudar a desenhar um método de alfabetização crítico-digital? Para estar neste mundo e poder participar de suas potencialidades é preciso dominá-lo. Este domínio não se dará pelo controle simples de seus manuais de instrução ou pela manipulação de seus teclados e softwares - "caminhar sobre as letras", como dizia Freire. Tal participação demanda um aguçamento do senso crítico, acompanhando a discussão de seus problemas e de suas perspectivas. Este domínio se desenvolve também com a compreensão de seus instrumentais: navegar na internet, trabalhar com um processador para escrever um texto, poder enviar uma mensagem para o outro lado da cidade ou do mundo, criar uma agência de notícias ou editar jornais comunitários, divulgar seu currículo na rede: tudo isso pode ser um caminho freireano de uso crítico e político.


"Folha Explica: Paulo Freire"
Autor: Fernando José de Almeida
Editora: Publifolha
Páginas: 104

da Folha Online

"Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação", diz o professor e vice-presidente da TV Cultura Fernando José de Almeida, em seu recente livro "Folha Explica: Paulo Freire".

Lançamento de "Paulo Freire" ocorre nesta quarta (28), em SP

Divulgação
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire

De forma clara e objetiva, o título analisa a vida e a obra desse que é um dos maiores educadores do Brasil, mostra uma reflexão sobre a "pedagogia do oprimido", criada por Freire, e deixa clara a importância mundial de seus projetos político-pedagógicos.

Também destina um capítulo especial com cronologia e as principais obras do educador --que tem obras traduzidas para mais de 20 línguas.

Conheça, no trecho abaixo, os pensamentos de Paulo Freire e seu programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20, e que interferiu no mundo da educação em todos os continentes.

*

Ler o mundo para se libertar

O método criado por Paulo Freire para alfabetização de adultos foi, sem dúvida, sua maior contribuição à educação. Não apenas pela capacidade de alfabetizar em 40 horas. Seu sucesso está marcado pelo fato de ter desenvolvido um novo conceito de leitura - e com ele um novo conceito de escrita. Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.

A escrita é também objeto do pensamento e da vida. O mundo ao sul da linha do Equador é marcado pela oralidade; aqui, a escrita e a leitura são um distintivo de poder. Portanto, a criação de uma política de desenvolvimento de participação do mundo da leitura e da escrita significa redimir as massas excluídas de 500 anos de história. A leitura do mundo antecede a leitura das letras. A leitura assim é um fato político cultural de participação. Desse ponto de vista, um adulto ler frases como "vovó viu a uva" deixou de ser um fato educacional pacífico e virou um absurdo político, já que a frase não tem nenhum significado para o adulto que se alfabetiza. É um desrespeito a ele e o esvazia de sua dimensão cidadã.

Há 60 anos10, havia ainda 50% de analfabetos no país - por absoluta opção política. Dirigentes, classes médias e baixas, clero, latifundiários e minifundiários, políticos, todos achavam que os analfabetos eram uma espécie de praga, uma mancha na cultura nacional. Mais uma vez, a vítima era a culpada. Alguns viam os analfabetos como uma espécie que nasce por acaso e faz parte de um sistema ecológico de equilíbrio social. De lá para cá, houve progresso.

Em 2008, o estado de São Paulo chega ao menor número relativo de analfabetos na sua história: 4%. Pela primeira vez na história, o número de analfabetos maiores de 15 anos começa a diminuir a partir de 2002, chegando a 10 milhões em todo o país. Isso acontece pelo simples fato de que não geramos novos analfabetos, pois todas as crianças estão na escola. Mas o estoque de analfabetos se mantém e este número só abaixará pela morte deles!

Não acabamos ainda com o analfabetismo, embora estejamos acabando com os analfabetos. Todo o trabalho de Paulo Freire, todos os anos de exílio, todos os festejos na sua volta, não ajudaram o país a fazer a lição: dar direito à leitura e à escrita a seus cidadãos. Todos.

Elementos do seu método

O método construído por Paulo Freire a partir de sua prática pedagógica, em articulação com os carentes sociais e culturais de seu estado de Pernambuco, gerou um programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20. Pode-se dizer que esse método interferiu no mundo da educação em todos os continentes. Partindo de "temas geradores", o método propiciava uma reflexão do alfabetizando sobre os seus próprios problemas - o que gerava a necessidade de posicionar-se sobre tais questões e de expressá-las em formas próprias de comunicação. Com o método de Freire, os adultos não se sentiam alheios aos temas de sua escrita e a leitura virava um aprofundamento do que já vinham vivendo, em suas experiências como trabalhadores e cidadãos.

Se os temas geradores fossem, digamos, terra, latifúndio, favela, enxada, foice, casa, eram essas as palavras a serem lidas e escritas, com seus significados debatidos. Toda a gama de desmembramento de outras palavras era oriunda dessas sílabas componentes das palavras--temas. FA-VE-LA pode gerar: ve-la, fa-la, la-ve, lu-va, fa-va etc., assim como outras inúmeras composições com seus diversos grupos silábicos, num imenso repertório de possibilidades. Com isso, os jovens ou adultos constroem palavras nascidas de seu repertório "gerador"; e sendo elas debatidas, escritas e faladas, podem transformar as suas realidades pela práxis.

Os problemas de alfabetização não pararam aí: da perspectiva do método, o desafio contemporâneo é continuar a construir, com os leitores-aprendizes, a problematização sobre os temas geradores em cada nova realidade - como no mundo digital, especialmente. Tornado realidade pela reorganização do capitalismo volátil, o mundo digital deve ser também objeto de um novo processo da alfabetização. O mundo digital em nada é menos opressor ou menos desumanizador que o mundo do latifúndio ou da favela. São desafios mais sutis e mais encobertos em aparências de globalização democrática.

Como Paulo Freire pode ser chamado para ajudar a desenhar um método de alfabetização crítico-digital? Para estar neste mundo e poder participar de suas potencialidades é preciso dominá-lo. Este domínio não se dará pelo controle simples de seus manuais de instrução ou pela manipulação de seus teclados e softwares - "caminhar sobre as letras", como dizia Freire. Tal participação demanda um aguçamento do senso crítico, acompanhando a discussão de seus problemas e de suas perspectivas. Este domínio se desenvolve também com a compreensão de seus instrumentais: navegar na internet, trabalhar com um processador para escrever um texto, poder enviar uma mensagem para o outro lado da cidade ou do mundo, criar uma agência de notícias ou editar jornais comunitários, divulgar seu currículo na rede: tudo isso pode ser um caminho freireano de uso crítico e político.


"Folha Explica: Paulo Freire"
Autor: Fernando José de Almeida
Editora: Publifolha
Páginas: 104

PAULO FREIRE DESENVOLVEU NOVO CONCEITO DE LEITURA E ESCRITA: leia trecho

da Folha Online

"Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação", diz o professor e vice-presidente da TV Cultura Fernando José de Almeida, em seu recente livro "Folha Explica: Paulo Freire".

Lançamento de "Paulo Freire" ocorre nesta quarta (28), em SP

Divulgação
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire
"Folha Explica" analisa a vida e a obra do educador Paulo Freire

De forma clara e objetiva, o título analisa a vida e a obra desse que é um dos maiores educadores do Brasil, mostra uma reflexão sobre a "pedagogia do oprimido", criada por Freire, e deixa clara a importância mundial de seus projetos político-pedagógicos.

Também destina um capítulo especial com cronologia e as principais obras do educador --que tem obras traduzidas para mais de 20 línguas.

Conheça, no trecho abaixo, os pensamentos de Paulo Freire e seu programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20, e que interferiu no mundo da educação em todos os continentes.

*

Ler o mundo para se libertar

O método criado por Paulo Freire para alfabetização de adultos foi, sem dúvida, sua maior contribuição à educação. Não apenas pela capacidade de alfabetizar em 40 horas. Seu sucesso está marcado pelo fato de ter desenvolvido um novo conceito de leitura - e com ele um novo conceito de escrita. Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.

A escrita é também objeto do pensamento e da vida. O mundo ao sul da linha do Equador é marcado pela oralidade; aqui, a escrita e a leitura são um distintivo de poder. Portanto, a criação de uma política de desenvolvimento de participação do mundo da leitura e da escrita significa redimir as massas excluídas de 500 anos de história. A leitura do mundo antecede a leitura das letras. A leitura assim é um fato político cultural de participação. Desse ponto de vista, um adulto ler frases como "vovó viu a uva" deixou de ser um fato educacional pacífico e virou um absurdo político, já que a frase não tem nenhum significado para o adulto que se alfabetiza. É um desrespeito a ele e o esvazia de sua dimensão cidadã.

Há 60 anos10, havia ainda 50% de analfabetos no país - por absoluta opção política. Dirigentes, classes médias e baixas, clero, latifundiários e minifundiários, políticos, todos achavam que os analfabetos eram uma espécie de praga, uma mancha na cultura nacional. Mais uma vez, a vítima era a culpada. Alguns viam os analfabetos como uma espécie que nasce por acaso e faz parte de um sistema ecológico de equilíbrio social. De lá para cá, houve progresso.

Em 2008, o estado de São Paulo chega ao menor número relativo de analfabetos na sua história: 4%. Pela primeira vez na história, o número de analfabetos maiores de 15 anos começa a diminuir a partir de 2002, chegando a 10 milhões em todo o país. Isso acontece pelo simples fato de que não geramos novos analfabetos, pois todas as crianças estão na escola. Mas o estoque de analfabetos se mantém e este número só abaixará pela morte deles!

Não acabamos ainda com o analfabetismo, embora estejamos acabando com os analfabetos. Todo o trabalho de Paulo Freire, todos os anos de exílio, todos os festejos na sua volta, não ajudaram o país a fazer a lição: dar direito à leitura e à escrita a seus cidadãos. Todos.

Elementos do seu método

O método construído por Paulo Freire a partir de sua prática pedagógica, em articulação com os carentes sociais e culturais de seu estado de Pernambuco, gerou um programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20. Pode-se dizer que esse método interferiu no mundo da educação em todos os continentes. Partindo de "temas geradores", o método propiciava uma reflexão do alfabetizando sobre os seus próprios problemas - o que gerava a necessidade de posicionar-se sobre tais questões e de expressá-las em formas próprias de comunicação. Com o método de Freire, os adultos não se sentiam alheios aos temas de sua escrita e a leitura virava um aprofundamento do que já vinham vivendo, em suas experiências como trabalhadores e cidadãos.

Se os temas geradores fossem, digamos, terra, latifúndio, favela, enxada, foice, casa, eram essas as palavras a serem lidas e escritas, com seus significados debatidos. Toda a gama de desmembramento de outras palavras era oriunda dessas sílabas componentes das palavras--temas. FA-VE-LA pode gerar: ve-la, fa-la, la-ve, lu-va, fa-va etc., assim como outras inúmeras composições com seus diversos grupos silábicos, num imenso repertório de possibilidades. Com isso, os jovens ou adultos constroem palavras nascidas de seu repertório "gerador"; e sendo elas debatidas, escritas e faladas, podem transformar as suas realidades pela práxis.

Os problemas de alfabetização não pararam aí: da perspectiva do método, o desafio contemporâneo é continuar a construir, com os leitores-aprendizes, a problematização sobre os temas geradores em cada nova realidade - como no mundo digital, especialmente. Tornado realidade pela reorganização do capitalismo volátil, o mundo digital deve ser também objeto de um novo processo da alfabetização. O mundo digital em nada é menos opressor ou menos desumanizador que o mundo do latifúndio ou da favela. São desafios mais sutis e mais encobertos em aparências de globalização democrática.

Como Paulo Freire pode ser chamado para ajudar a desenhar um método de alfabetização crítico-digital? Para estar neste mundo e poder participar de suas potencialidades é preciso dominá-lo. Este domínio não se dará pelo controle simples de seus manuais de instrução ou pela manipulação de seus teclados e softwares - "caminhar sobre as letras", como dizia Freire. Tal participação demanda um aguçamento do senso crítico, acompanhando a discussão de seus problemas e de suas perspectivas. Este domínio se desenvolve também com a compreensão de seus instrumentais: navegar na internet, trabalhar com um processador para escrever um texto, poder enviar uma mensagem para o outro lado da cidade ou do mundo, criar uma agência de notícias ou editar jornais comunitários, divulgar seu currículo na rede: tudo isso pode ser um caminho freireano de uso crítico e político.


"Folha Explica: Paulo Freire"
Autor: Fernando José de Almeida
Editora: Publifolha
Páginas: 104

segunda-feira, outubro 19, 2009

COMO LULA, TUCANATO INCHA A MÁQUINA PUBLICA EM SÃO PAULO


Ordem Serrada/Chico Quintas Jr.



Em matéria de pessoal, o princípio seguido pelo PSDB em São Paulo, principal vitrine do partido, baseia-se num velho lema: "Faça como eu digo, não como eu faço".



Crítico contumaz da polícia funcional expansionista adotada por Lula na esfera federal, o tucanato mimetiza o presidente em São Paulo.



Deve-se a comparação ao repórter Gustavo Patu. O cotejo de dados resultou em reportagem pendurada na manchete da Folha desta segunda (19).



Apurou-se o seguinte:



1. Desde 2003, máquina do Executivo de São Paulo ganhou 33 mil novos servidores ativos. Nesse período, o Estado foi gerido pelos grão-tucanos Alckmin e Serra.



2. Considerando-se os três Poderes do Estado, as despesas com o funcionalismo de São Paulo foram tonificadas por reajustes dados às principais carreiras.



3. Incluindo aposentados e pensionistas, a conta anual da folha salarial de São Paulo subiu 19%. Em 2008, bateu em R$ 43,1 bilhões.



4. O repórter deparou-se com diferenças metodológicas que dificultam a comparação precisa entre a política de pessoal do PT-Brasília e do PSDB-SP.



5. A despeito disso, verificou-se que não há divergência na linha seguida por Lula e pela dupla Alckmin-Serra.



6. Sob Lula, interrompeu-se o processo de enxugamento de pessoal que Collor iniciara e que FHC aprofundara.



7. Desde que tomou posse, em 2003, Lula elevou em 12% o quadro de servidores ativos do Executivo. Em julho passado, os funcionários eram contados em 548,2 mil.


8. Tomado pelo boletim estatístico do governo de São Paulo, o crescimento do quadro de servidores do Executivo paulista foi de 14%.



9. O tucanato alega que o critério de quantificação foi modificado em 2007. Guiando-se pela nova metodologia, a gestão Serra diz que a elevação foi de 5%.



10. Depois de escarafunchado pelo repórter Patu, o boletim dos 14%, que se encontrava disponível no sítio mantido pelo governo de São Paulo na web, sumiu.



11. A assessoria de imprensa da Secretaria de Gestão Pública de Serra atribuiu o sumiço à necessidade de rever os dados e uniformizar os critérios.



12. Na União, as despesas com pessoal são computadas com metodologias distintas das adotadas em São Paulo. A despeito disso, a comparação é incontornável.



13. Considerando-se os três Poderes federais –Executivo, Judiciário e Congresso–, a elevação dos gastos foi, sob Lula, 30% acima do IPCA. Bateu em R$ 144,5 bilhões.



14. Tomando-se apenas os gastos com o Executivo, a diferença entre Lula e Alckmin-Serra é praticamente inexistente: até 2008, 15% na União e 14% em São Paulo.



15. São Paulo e Brasília igualam-se também nas desculpas. Os governos federal e paulista alegam que o funcionalismo não cresceu a esmo.



16. O secretário de Gestão Pública de Serra, Sidney Beraldo, diz que, em São Paulo, o crescimento do quadro beneficiou especialmente as áreas de educação e segurança pública.



17. O secretário de Gestão do Ministério do Planejamento de Lula, Marcelo Viana de Moraes, informa:



Na seara federal os setores que mais ganharam novos servidores foram –tchan, tchan, tchan, tchan...— educação e segurança.



18. Submetido a essa coleção de dados, o poeta Gonçalves Dias talvez dedicasse um verso aos tucanos que alfinetam Lula no Congresso sem olhar para o bico grande de São Paulo:



“As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”.

Escrito por Josias de Souza às 05h00

sexta-feira, outubro 16, 2009

Organização Sistêmica dos Documentos do Povo Brasileiro:

Lula sanciona lei que unifica número do RG, passaporte e CPF

Da Agência Brasil*
A carteira de identidade, o passaporte, o CPF e a carteira de motorista são alguns dos documentos que passarão a ter o mesmo número de registro. A lei 12.058 que autoriza o registro civil único foi sancionada na última terça-feira (13) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a unificação, o cidadão terá o número único de registro de identidade civil, válido para os brasileiros natos e naturalizados. De acordo com a lei, a implementação do registro único deve começar dentro de um ano. O Poder Executivo terá 180 dias para regulamentação.

Pelo projeto, os documentos terão o mesmo número do Registro da Identidade Civil (RG), à medida que forem sendo expedidos. A União poderá firmar convênios com os Estados e o Distrito Federal para implantar o número único e trocar os documentos antigos de identificação.

A lei foi resultado da conversão da Medida Provisória 462, que trata do repasse de recursos ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Um dos objetivos da lei é evitar a falsificação de documentos. Cerca de 10% de pelo menos 160 milhões de carteiras de identidade que circulam no Brasil são falsas, conforme dados da PF.

São documentos frios que seguem ativos, em parte, por causa da negligência das famílias e dos cartórios em dar baixa em casos de morte, mas principalmente por golpistas da Previdência, eleitores fantasmas e estelionatários em geral. A PF já encontrou pessoas com mais de 20 carteiras de identidade, de Estados diferentes.

* Com informações da Agência Estado

quinta-feira, outubro 08, 2009

Embuste: Skcaf, homem de direita, inimigo da CPMF e dos trabalhadores, filiado a um partido, supostamente, de esquerda (o PSB)

Edson Paim Escreve

Até onde chegou o despropósito!

Os partidos, no Brasil, não têm, mesmo, conteúdo de nitidez ideológica.

Mas não se esperaria chegar a este ponto!

Skaf, reconhecidamene defensor do liberalismo econômico, cujo simbolo maior é a "mão invisível", uma verdadeira mão direita, que regula, apenas, o mercado, concomitantemente, desregulando a sociedade inteira, se conflitando com o papel do Estado Democrático de Direito, dos nossos dias, cuja "mão esquerda" deve se tornar, cada vez, mais visível, a fim de se contrapor aos ditames do modelo liberal que estrebuchou no decorrer da crise econômica sistêmica, mundial.

Este modelo iníquo só foi salvo graças a intervenção estatal, mais visível nos países que possuem um Estado econômicamente forte, como o Brasil e, por isto mesmo, custou mais a entrar na crise e, mais prontamente saiu dela.

Parabens aos militantes do PSB, oponentes ao duspodorado gesto do Sr. Paulo Scaf que com o acesso que tem ao dinheiro de todos o empresariado paulista, deseja comprar um mandato, para melhor defender seus financiadores, do qual se tornará um mero "laranja", poia, a peso de dinheiro, comprarão um mandato, para representar a FIESP no Parlamento e não o povo paulista.

Essa estratégia, ademais, desquilibrará, mais ainda, as eleições, a favor do poder econômico, em detrimento daqueles que, realmenente, possuem vínculo com o povo, os quais só terão oportunidade se, algun dia, for implantado o financiamento publico de campanha, que os atuais beneficiários do nosso iníquo modelo eleitoral se recusam a implantar, como o fizeram no último arremedo de reforma eleitoral, pois essa estratégia, certamente, os colocaria no mesmo nível de oportunidade daqueles que, verdadeiramente, poderiam representar o povo.



Veja o que escreve Josias de Souza;


"Militantes do PSB recorrem contra a filiação de Skaf



Zhang Dali Shaun Curry/AFP



Tom Jobim costumava dizer: o Brasil é um país de cabeça pra baixo. Aqui, as prostitutas gozam e os traficantes cheiram.



Desde a morte do maestro, a coisa só tem piorado. Agora, supostos capitalistas viram pseudosocialistas em pleno vôo.



Incomodados com o inusitado da fialiação de Paulo Skaf ao PSB, dois militantes da legenda decidiram estrilar.



Chamam-se Marionaldo Fernandes Maciel e Jadirson Tadeu Cohen Parantinga. Moram em Campinas (SP).



Acham que a conversão do presidente da Fiesp levou a inconerência Às fronteiras do paroxismo. Recorreram contra a filiação do “inimigo” dos trabalhadores.



Procurado, Skaf mandou dizer que o par de militantes expressa posição isolada. Coisa normal num país democrático como o Brasil.



O presidente do diretório Municipal do PSB de Campinas, Eliseu Gabriel, também considerou normal o protesto dos militantes.



Como se vê, o Brasil pós-Jobim continua sendo o último país feliz do mundo. Aqui, o normal é a anormalidade."

Escrito por Josias de Souza