Lobão perde a 1ª batalha por fundo de pensão de Furnas (Tribuna da Imprensa)
Os trabalhadores e pensionistas de Furnas e da Eletronuclear venceram o primeiro round da queda de braço contra a tentativa de ingerência do PMDB na Fundação Real Grandeza, que administra R$ 6,3 bilhões em recursos previdenciários das duas empresas. A proposta de substituição do comando da entidade por um indicado do partido, que seria votada ontem em reunião extraordinária do Conselho Deliberativo, foi retirada da pauta na última hora, após manifestações de protesto e paralisações das atividades na empresa durante todo o dia.
Uma cláusula no regimento interno da instituição previa que, ao ser rejeitada anteriormente, qualquer pauta só poderia voltar a ser apresentada por quatro dos seis membros do Conselho A proposta da substituição já havia sido negada em dezembro de 2007, após ter sido encaminhada ao Conselho pelo então presidente de Furnas, Luiz Paulo Conde. Ontem, apenas o presidente do conselho, Victor Albano, defendeu a proposta.
Representante da Eletronuclear no conselho, Wilson Neves, que chegou a ter seu nome incluído na proposta, mas sem a assinatura, foi um dos votos contrários. "Ele já sabia da ilegalidade antes de ter redigido esta proposta. E colocou meu nome sem autorização", disse Neves, referindo-se a Albano. Alegando "desconhecimento de detalhes do regimento interno" de cuja aprovação ele participou no ano passado, e "fidelidade à orientação" de Furnas, Albano disse que sai do episódio de "cabeça erguida".
Ele argumentou que o novo estatuto da empresa, que entrou em vigor em agosto do ano passado, adiou o fim do mandato dos dirigentes da Fundação para outubro de 2009 e disse que atualmente discorda da medida, apesar de ter presidido a elaboração e aprovação do documento. Depois de elogiar a atual gestão do fundo, esquivou-se ao ser indagado sobre o real motivo na troca do comando da Fundação: "Isso você tem que perguntar à Furnas".
Albano comentou que não havia prestado atenção ao "detalhe" do impedimento do regimento interno e que só atentou para isso no meio do carnaval. "Aí não tinha mais como cancelar a reunião", justificou. Na semana passada, o presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, comunicou em carta aos funcionários da empresa que a exoneração tanto do presidente da Fundação, Sérgio Wilson Fontes, quanto do seu diretor financeiro, Ricardo Gurgel, era uma "orientação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão". A carta provocou a renúncia de dois conselheiros (um deles suplente de Albano).
Na reunião de ontem, Albano se viu sem saída, segundo relatos dos demais conselheiros. Ele chegou a pedir o cancelamento da reunião logo no início, mas teve sua defesa derrotada por cinco votos contrários. "Acreditamos que se a sessão fosse cancelada, ele poderia encontrar algum outro meio de passar o rolo compressor sobre o regimento e conseguir apresentar esta proposta sob nova versão", disse Geovah Machado, membro eleito entre os aposentados para o Conselho.
Até mesmo o chefe de Gabinete do presidente de Furnas, Luiz Roberto Bezerra, que tomou posse ontem no lugar de um membro que renunciou, ficou contrário à posição de Albano, surpreendendo os demais.
Tânia Vera, coordenadora da Associação dos Aposentados de Furnas, a Após-Furnas, disse no fim do dia que a retirada da proposta na reunião foi apenas "uma batalha na guerra contra a ingerência política na Fundação". Segundo ela, os sindicatos e a associação chegaram a pedir uma blindagem dos cargos do comando da instituição até o fim do mandato às empresas e ao Conselho, mas não obtiveram sucesso. "O regulamento prevê que o Conselho pode exonerar o presidente e os diretores. Se não queremos a ingerência do PMDB indicando nomes, também não podemos ceder às pressões de Lula, ou de quem quer que seja para mantê-los no poder", disse o conselheiro Geovah Machado.
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