quarta-feira, abril 17, 2013

PREMISSA


                  Vivemos em uma época em que ocorre uma verdadeira explosão ou avanços em todos os ramos do conhecimento. Daí, surge a necessidade de conhecimento especializado, de vez que todo campo de estudo torna-se, dia a dia, mais complexo. Isto tem óbvias vantagens. Entretanto, torna a cultura de cada indivíduo, dia a dia, mais parcializante, conduzindo-o a uma percepção casuística da realidade, ao comprometer sua visão gestáltica, sistêmica, holística, global ou de conjunto.
                 A abordagem do homem, focalizado como objeto do conhecimento, não constitui exceção. Disseca-se, cada vez mais, sua estrutura anatômica (óssea, muscular e nervosa), desenvolvem-se estudos histológicos, moleculares e iônicos, sua fisiologia (físico-química), nas vertentes muscular, cardiovascular, respiratória, renal, nêurica (neurotransmissores), hormonal e outras, elucida-se seus mecanismos cibernéticos (feedback) destinados a manter seu equilíbrio hidro-eletrolítico, acido-acido básico, enfim, sua consstância de composição ou homeostase). Investiga-se seu genôma, cuja estrutura é expressa em linguagem química, através de signos constituídos por moléculas de ADN.
                  Constata-se que o organismon inteiro e seus constituintes são regidos por mecanismos cibernéticos, através de milhares de mecaminsmos de feedback negativo, cujo papel é regulá-lo, corrigindo seus desvios ou descaminhos.. 
                  Retroage-se à origem das espécies, decifra-se sua história evolutiva, o surgimento do homo sapiens e seu desenvolvimento social, até os dias presentes.
                  Desse direcionamento, resulta a necessidade de especialização e,  decorre o advento dos  especialistas e dos ultra-especialistas que geralmente operam através de uma estrutura fragmentária de conhecimento que dificulta e distorce a percepção da realidade. Fragmenta-se o ser humano, mas nem sempre são capazes de reconstruí-lo. 
                 Esta visão é resultante e compatível com o paradigma cartesiano-newtoniano, analítico, mecanicista e reducionista, calcado no paradigma da física clássica, que norteou o desenvolvimento científico-tecnológico, inclusive a  evolução da medicina e da enfermagem até aos nossos dias.
                 A enfermagem, no Brasil, embora tenha surgido no contexto da saúde pública, teve o seu desenvolvimento no âmbito da medicina, adotando desde logo o seu paradigma.
                 Este consórcio permitiu, sem dúvida, o seu crescimento até determinado patamar, mas daí em diante, passou a constituir, até mesmo, um entrave, impedindo a evolução da enfermagem e sua diferenciação como ramo autônomo do saber.
                 Na verdade, o modelo médico se cristalizou, consoante a visão mecanicista, cartesiano-newtoniana da realidade e, portanto  fragmentária  e parcializante.
                 Como "divindade" tutelar, a medicina preferiu Panacéia a Higéia, centrando seus estudos nas especialidades médicas e na patologia, ao relegar a plano secundário os conhecimentos globais e a abordagem de natureza profilática.    
                 Esta perspectiva mecanicista, analítica, fragmentária, newtoniano-cartesiana  que direcionou a medicina para os rumos das especializações e ultra especializações, focalizadas nos órgãos e na doença e, não no organismo e na saúde, centralizadas no trabalho pessoal e no paciente individual, voltada para a utilização de equipamentos, cada vez mais sofisticados, prioriza a medicalização e mercantilização e relega a plano secundário os contextos social e ambiental.
                 Assim, os mesmos paradigmas que nortearam o avanço  científico-tecnológico e o progresso da medicina, durante vários séculos, atingiu o ápice do ramo ascendente de sua trajetória e, após chegar ao seu apogeu, agora se encontra em fase declínante, prestes a se exaurir, motivo pelo qual necessitam ser reciclados ou substituídos.
                 É preciso vigir, nestes tempos, um novo paradigma, decorrente de uma osmovisão contemporânea, imposta pela física moderna, expressa pela teoria da relatividade (Einstein), pela teoria quântica (Max Planck), pelo do princípio da incerteza (Heisenberger e outros), acrescida de uma percepçao orgânica da realidade (enfoque biológico e visão ecológica), oriunda dos avanços da biologia e da ecologia, impondo a nnecessudade de precedimehnto de profundos reajustes (feedback) no paradigma cartesiano-newtoniano.
                 O conhecimento médico e o modelo da medicina estão muito cristalizados e quase imunes ao processo de mudanças, mormente quando se necessita de uma verdadeira revolução no Setor de Saúde.
                 O modelo biomédico vigente não serve mais, nem para a própria medicina, que precisa buscar novos caminhos, novas alternativas, passíveis de reverter o quadro atual e retirá-la do impasse em que se encontra, pois desenvolveu uma prática  assistencial de saúde, considerada pela maioria dos estudiosos do tema, como iníqua, ultrapassada e, mesmo, perversa.
                 Se já é obsoleto para a medicina, tal modelo não pode continuar balizando o roteiro da enfermagem, sobretudo nesta etapa de sua evolução.
                 Para se alçar à condição de ciência, a enfermagem precisa provocar uma ruptura com o paradigma newtoniano-cartesiano, buscar novos caminhos, inserindo-se na realidade do pensamento científico e das ideias sociais contemporâneas.
                 O paradima que propomos para a Enfermagem é expresso pela Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Uma Visão Holística da Enfermagem, desenvolvida a partir de 1967 e, constante de Tese de Livre Docência (Paim, 1974), designada então "Teoria Sistêmica de Enfermagem".
                 Esta teoria, em sua versão atual, está alicerçada em estudos teóricos e, em práticas e experiências profissionais, vivenciadas durante mais de meio século, em atividades de ensino, pesquisa e extensão (assistencial), utilizando o próprio modelo dos sistemas auto-oganizadores e auto-reguladores, como o dos seres vivos e dos ecossistemas naturais, portanto, mediante uma abordagem de natureza orgânica, não mecanicista, tendo sua base filosófica no Pensamento Sistêmico Ecológico Cibernético Informacional,  um construto, também de nossa autoria, de natureza multirreferencial e holística, elaborado com base no Método Cientifico, na Física moderna, no Gestaltismo, no Sistemismo, na Cibernética, na Teoria de Informações, na Ecologia, na Fisiologia (Bioquímica e Biofísica), no Estruturalismo, no Funcionalismo, na Genética, na Teoria da Evolução, na Ciência da Administração, na Dialética, particularmente em uma Dialética dos Sistemas Vivos, além de fundamentado em outros ramos do saber, integrantes do pensamento científico contemporâneo, constituintes de uma nova cosmovisão que corresponde a aspectos de uma ruptura das fronteiras do conhecimento e interprete de uma linha de multi-referncialidade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e complexidade, representando uma contribuição à busca na direção da possível unidade da ciência..
                 Nesta nova visão (holística) do universo, da vida, do homem (sistema humano), do ambiente (visão ecoógica), da sociedade, da saúde e da enfermagem, em que se passa a percebe a doença, apenas, como uma intercorrência ao longo do processo vida (existência) e a saúde como um estado de equilíbrio (homeostasia) da relação de trocas de matéria, energia e informações entre o sistema humano e o seu ecossistema, o enfermeiro exercerá, em toda a plenitude, sua prática social característica, desempenhando sua função e papeis profissionais no afã de assistire "cuidar" do ser humano em sua integralidade e inserido em seu contexto ecológico, como se encontra estipulado nos Princípios das Ações Simultâneas e de Adequação do Ambiente, abrangendo todos os estágios do ciclo vital, incluindo o instante da morte, transcendendo-a para alcançar o período pós-morte imediato, expresso pelo Princípio da Extrapolação do Ciclo Vital.
                 Estes princípios são integrantes da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Uma Visão Holística da Enfermagem, objeto desta publicação.
                 Para balizar a trajetória da enfermagem, na época presente e nos dias futuros, faz-se necessária a adoção de um sistema referencial próprio, cuja focalização constitui o objetivo deste livro.

terça-feira, abril 16, 2013

Préfácio de autoria da Profa. Dra. Isabel Cristina Fonseca da Cruz

Prefácio escrito pela Profa. Dra. Isabel Cristina Fonseca da Cruz
Titular da Universidade Federal Fluminense, para o livro "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermaagem - Uma Visão Holística da Enfermagem", edição de  2013 (No prelo)


P R E FÁ C I O

Determinou o Tao que eu, outrora sua aluna de graduação aprendendo sobre o cuidado da mãe e do bebê no alojamento conjunto, a promoção da amamentação, os cuidados de puericultura e agora sua colega de enfermagem, na forma de reverência prefaciasse a nova edição de uma das principais obras da Professora Doutora Rosalda Paim: Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - uma visão holística da enfermagem.
O primeiro trabalho na formulação de uma teoria aconteceu na década de 1960 e tornou-se em 1970 sua tese de livre docência com o título de “Teoria Sistêmica de Enfermagem”.
Ao longo de meio século, a teorista Rosalda Paim vem trabalhando os conceitos e estrutura da teoria, apresentando neste livro sua versão mais recente.
A partir da leitura e debate resultantes da apropriação desta obra, outra versão surgirá da teoria tanto nos textos quanto nos cenários de atenção à saúde do paciente. É assim que evoluem as teorias.
No meu entender sobre teorias de enfermagem e o contexto da prática profissional no Brasil, a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética tem sua importância por ser prescritiva para o exercício profissional da enfermeira.
Esta obra deve ser lida por quem visa novas bases filosóficas para a prática da enfermeira sem perder de vista a estrutura de profissão e a base teórica definida por Florence Nightingale.
A Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética, da Dra. Rosalda Paim, inter-relaciona os conceitos em torno do fenômeno que constitui a relação enfermeira-cliente. No caso, dos conceitos que diferenciam a sua teoria das demais, eu destaco, de forma muito sucinta, o ecossistemismo por conter as ideias de ambiente e equilíbrio instável. Sob este paradigma, a relação-enfermeira-paciente seria totalmente diferente do que é atualmente. Daí a teoria de Rosalda Paim ser prescritiva devendo, portanto, ser utilizada pelas instituições e profissionais de saúde para orientar e aprimorar o cuidado clínico.
Ser um referencial filosófico da enfermeira no cuidado cotidiano do paciente em seu contexto é, seguramente, o principal propósito da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética. Igualmente, é muito desejável que a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética seja para a instituição de saúde um parâmetro para a qualidade do cuidado de enfermagem, assim como para a avaliação do grau de satisfação e sucesso do cliente com o cuidado de enfermagem recebido.
Se a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética é prescritiva para as instituições de saúde, ela também o é para as Escolas de Enfermagem. Para atuar na prática profissional a partir deste referencial teórico, é necessário que a aluna de graduação ao longo de sua formação realize suas atividades de ensino clínico tendo o ecossistemismo como um conceito de base.
E, tendo em vista que tanto o exercício profissional quanto o ensino de enfermagem não devem acontecer dissociados da pesquisa, a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética pode tanto ser um referencial para os estudos como também ser o objeto da pesquisa em si de modo a ser validada ou refutada a partir de evidências científicas e não de subjetividades.
Este livro Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - uma visão holística da enfermagem está organizado fundamentalmente em 7 capítulos.
O primeiro capítulo em seu primeiro parágrafo ao referenciar Mário Chaves, Paim declara uma das fontes que a influenciaram, revelando a sua sintonia com aquele que é, digamos assim, um precursor do que há de transdisciplinaridade e complexidade no nosso SUS (Sistema Único de Saúde). Neste capítulo, a autora apresenta o conceito central da teoria o homem, o ser, sistêmico cibernético e seus metassistemas num contexto ecológico. Com a adoção deste referencial de prática, a enfermagem pode vir a ser uma profissão da saúde por excelência (grifo meu).
Os capítulos subsequentes abordam os princípios de enfermagem específicos da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética, dos quais destaco apenas a título de exemplo o princípio da extrapolação do ciclo vital quando a enfermeira cuida do ser (pessoa, família, comunidade) no pós-morte imediato por incluir, no meu entendimento, uma diretriz para a observação da transcendência no processo do cuidado. No capítulo 3, especificamente, são apresentados os princípios de enfermagem que também são comuns às demais ciências da saúde, dentre eles, por exemplo, o princípio das ações negentrópicas realizadas com a finalidade de corrigir a entropia no paciente e seus metassistemas (inclusive o de enfermagem).
O setor saúde é apresentado conforme a teoria sistêmica tendo em vista que historicamente as pesquisas da Dra. Rosalda Paim para a construção de sua teoria são contemporâneas de todo o movimento de reforma da saúde no Brasil e inclusive desta reforma suas pesquisas fazem parte. Parece óbvio, mas cabe destacar que, conforme a teoria, o sistema de saúde proposto deve ser “centrado no paciente”. Cinquenta anos depois desta proposição e o paciente ainda não é o centro da atenção à saúde.  Esta é uma das razões de eu classificar a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - uma visão holística da enfermagem como uma teoria prescritiva.
Diante do exposto, é com muita honra e satisfação que apresento a você o livro Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - uma visão holística da enfermagem. O objetivo dele não difere dos demais livros científicos de enfermagem: fomentar o cuidado de enfermagem de qualidade (ou seja, seguro, ético, competente) centrado nos pacientes, famílias e comunidades, tanto nas instituições de saúde quanto em outros cenários. Esta sempre foi a meta profissional da Dra. Rosalda Paim e ela seguramente a alcançou na sua carreira como enfermeira e foi isso o que nos ensinou enquanto docente. Ao redigir este livro, ela compartilha com você sua experiência e tal qual um mestre Zen lhe aponta o Caminho!
Desejo uma boa leitura crítica e aproveito para lhe convidar a visitar o site Memorial Rosalda Paim onde você poderá conhecer mais sobre suas obras, sua carreira como enfermeira, pesquisadora e parlamentar, enfim sobre uma vida dedicada à Enfermagem. Neste site você poderá registrar ainda a sua opinião sobre este livro a qual será muito bem-vinda.
http://www.rosaldapaim.uff.br/

Profa. Dra. Isabel Cristina Fonseca da Cruz
Titular da Universidade Federal Fluminense.