terça-feira, dezembro 26, 2006

SOCIEDADES DE CLASSES, TAMBÉM, EM PAÍSES COMUNISTAS

A excelente matéria do jornalista Marcelo Galli, publicada na Revista Filosofia, Ciência & Vida - Nº 4,transcreve o seguinte trecho do Manifesto Comunista de 1848:

“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, em uma palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido em uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que termina sempre, ou por uma transformação evolucionária da sociedade interna, ou pela destruição das suas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres, oficiais e servos, e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes.
Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.”
Trecho do Manifesto Comunista, de 1848, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels.

Na transcrição acima, se afirma que “a sociedade burguesa moderna,que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes”, pode ser traduzida pela expressão seguinte:

O sistema comunista que “brotou das ruínas” do sistema capitalista, em vários países, “não se aboliu os antagonismos de classes”, apenas substuindo os antigos por outros.

Outra expressão de Marx e Engls: “Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão velhas formas de luta por outras novas” é aplicável, sem ressalva, aos países comunistas.

Mais uma crítica do manifesto se ajusta ao sistema comunista:

“Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes”, pode ser traduzido por:

Entretanto, a nossa época, a época do ex-comunismo soviético e dos seus satelistes e, os atuais, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes.

Quanto às afirmações de que “A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado”, pode ser substituída por estas:

A sociedade comunista “divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas”: os dirigentes e os dirigidos ou, os opressores e os oprimidos, tendo instaurado, portanto, uma nova dicotomia, uma nova forma de opressão, um novo antagonismo, cuja agravante é que a ação dos opressores sobre os oprimidos se exerce e se impõe através de uma gestão ditatorial.

Desta maneira, a sociedade comunista simplesmente imita a sociedade burguesa, caracterizadas ambas, por instaurarem e manterem os antagonismos de classes e a injustiça social.

Não sabemos a quem atribuir a titularidade, mas convém plagiar a frase:

"Nada mais parecido que um conservador de que um liberal no poder", substituindo-a por:

Nada mais parecido a um capitalista selvagem de que um comunista no poder.

O ambiente social no sistema burguês ou capitalista se apresenta atualmente, de forma, cada vez mais complexo,segundo diferentes matizes, existindo as megas, as grandes, as médias, as pequenas e as microempresas, cada uma delas com diferentes relações e condições de trabalho, podendo, nalgumas corresponder ao trabalho escravo, persistindo as relações desarmônicas, descritas por Marx, mas sem dúvida, o ambiente social global é completamente diverso do captado e descrito, então, pelo famoso filósofo e cientista.

As maiores empresas atuais abrigam até assalariados aburguesados, cujos rendimentos, muitas vezes astronômicos, permitem transformá-los, posteriormente, em grandes empresários, circunstancia esta não prevista por Marx,como de resto não previu o surgimento, hoje em dia, de grande número de médias, pequenas e microempresas, também, não raras vezes, entre outras condições, criadas mediante o aporte de capital oriundo de trabalho assalariado.

Nestas últimas, costuma-se encontrar empreendedores com uma condição ambígua, simultaneamente, ostentando a condição de empregadores e servo dos seus empregados, mercê de existência de uma legislação trabalhista que prioriza o assalariado e penaliza o pequeno empreendedor, tornando fator gerador de desemprego e da economia informal.

O pequeno e o microempresário podem ter condições e qualidade de vida inferior à de seus próprios empregados, pois são “forçados”, muitas vezes, a se submeterem a longas jornadas diárias, sem descanso semanal e sem férias anuais, com reflexos nas suas condições de saúde e de qualidade de vida e, até sem tempo para cuidar de sua própria saúde, agravada por uma vida sedentária.

Tudo isto, face à necessidade de assegurar a sobrevivência da empresa, criação e manutenção de empregos, a sobrevivência e educação da família, a satisfação das obrigações trabalhistas, como o pagamento dos salários dos empregados, de horas extras, descanso semanal, férias, 13º salário, fundo de garantia de tempo de serviço e multa de 50% sobre estes, além outros encargos sociais e impostos, chegando, não raro, a suportar a opressão dos empregados, através da ameaça de ações trabalhistas, em cujo foro se parte da pressuposta justeza das reclamações dos assalariados, desconsiderando, geralmente possíveis razões do empresário.

Se tudo isto não bastasse ainda pode ocorrer à hipótese de ter o pequeno e micro empresário que arcar, ainda, em muitas ocasiões, com o ônus da “menos valia”, o qual consiste na possibilidade de o empregado receber um salário e outros direitos que, adicionados a outros itens da produção, seja superior ao valor agregado ao produto, tornando o seu custo maior que o valor de mercado, podendo conduzir o empresário a situação de prejuizo e, até mesmo, de fallência.

Não se pretende aqui, absolver o capitalismo selvagem pela manutenção das condições de miséria, de fome, de doenças, desemprego, deficiência de condições de moradia e de saneamento básico, de degradação ambiental, prevalentes em grande parte do planeta, o qual precisa tanto quanto os regimes ditatoriais da adoção de mecanismos cibernéticos de “feedback”, a fim de processarem em ambos, profundos reajustes.

Talvez, mediante sucessivos reajustes, reciclando ambos os sistemas antagônicos, gradativamente, possa se chegar a uma situação de convergência, o surgimento de um regime mais palatável, representado por sociedades mais equilibradas, livres, justas, igualitárias, participativas, democráticas, talvez possa ser chamado socialismo democrático ou por qualquer outro nome, mas que seja capaz de significar, ao mesmo tempo, justiça social e democracia.

De qualquer maneira, nem o capitalismo exacerbado, nem o socialismo totalitário, é o que desejamos.

Estes são alguns dos motivos pelos quais preconizamos a utilização de uma perspectiva cibernética, no estudo, na construção e na operacionalização de sistemas sociais, a fim de reajustá-los, continujamnete, mecanismos de "feedback" sociais, a par do emprego, neste afã, do enfoque sistêmico e da visão ecológica, os quais correspondem a propostas do Sistemismo Ecológico Cibernético, um referencial, de nossa autoria, que vem sendo divulgado por este blog.

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